Às vésperas da eleição que vai decidir quem substituirá Barack Obama à frente da Casa Branca, a população dos Estados Unidos se divide em diversas questões que envolvem o país, o que vai muito além da preferência pelo voto nos partidos Democrata e Republicano.
É o que afirma Geraldo Zahran, professor do Departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e especialista em estudos sobre os Estados Unidos. Em entrevista ao UM BRASIL, Zahran diz que tanto a democrata Hillary Clinton como o republicano Donald Trump não conseguiram empolgar a população norte-americana durante a campanha presidencial. E, hoje, os cidadãos se veem divididos em problemas sociais mais amplos.
“Tem divisões entre uma população mais jovem, imigrante, e as castas mais estabelecidas nos Estados Unidos. Tem uma divisão entre a parcela mais educada da população, com ensino superior, e a parcela com menos escolaridade que acaba indo para empregos de meio período ou subempregos. Tem a polarização racial, que sempre esteve presente. Além de tudo isso, você tem cada vez mais uma polarização social, entre uma sociedade tradicional, de valores cristãos, e uma sociedade progressista, mais jovem”, afirma Zahran.
Segundo ele, independentemente de quem ganhe a eleição, o resultado não deve gerar grandes impactos para o Brasil. A única exceção é uma possível política de imigração que Trump, se vencer, possa implantar. “Costumo dizer que os impactos para o Brasil não serão gigantescos. A Hillary Clinton é uma figura política experiente, conhece o Brasil, já recebeu autoridades brasileiras em Washington enquanto secretária de Estado, tem sua rede de contatos aqui, tem sua visão de um sistema multilateral. O Donald Trump também conhece o País, tem investimentos no Brasil. Não acredito que os interesses das empresas e instituições brasileiras nos Estados Unidos possam ter algum tipo de impacto”, avalia o professor da PUC-SP.
No contexto internacional, Zahran diz que uma vitória de Hillary se traduz numa política mais tradicional, enquanto Trump pode gerar incerteza nas economias estrangeiras. “Há um consenso de que uma presidência da Hillary Clinton, por mais que não empolgue como foi a vitória do Obama, seria dentro dos padrões de normalidade. Certamente terá posições criticadas pela sua política externa, sua postura no Oriente Médio, princípios comerciais que vai defender, mas representa o conhecido. É um indicativo de estabilidade. A presidência do Donald Trump é uma grande incógnita, com risco de ser extremamente instável”, afirma.
Além da eleição norte-americana, o especialista em política externa também comenta a guerra na Síria, relações econômicas mundiais e a crescente tensão entre Estados Unidos e Rússia.