Transição energética precisa ser viável economicamente
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EM POUCAS PALAVRAS...
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- De acordo com Rafaela Guedes, especialista em energia e senior fellow do Cebri, a implementação da transição energética no Brasil depende da inovação dos modelos econômicos.
- Mas a mudança na matriz energética não se dará de uma hora para outra. Será preciso atrair investimentos e tornar o novo modelo economicamente viável, defende Rafaela.
- A especialista também acredita que, para preservar a Amazônia, será preciso agregar valor à economia da floresta. Ela cita a produção de fármacos, por exemplo.
Para ser implementada, de fato, a transição energética precisa ser viável em termos econômicos. É o que defende Rafaela Guedes, consultora independente, especialista em energia e senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
“Se as coisas não param em pé economicamente, não se avança”, diz a especialista. Na sua opinião, para que um novo modelo energético mais verde se torne realidade, é preciso que gere renda e novos empregos, além de contribuir para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB), por exemplo.
Em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, produzida com o apoio do Cebri, Rafaela analisa os entraves da transição energética, a relevância do setor privado na construção dessa política e os caminhos para a sua efetivação no País.
Mudança não acontece de uma hora para outra
Regulação. A especialista adverte que a transição energética não vai acontecer repentinamente. “A gente não vai parar de produzir [combustível] fóssil de uma hora para a outra”, adverte. Nesse sentido, ela acredita que a regulação do mercado de carbono já é um avanço importante. “Tenho de emitir menos [gás carbônico]. Mas, se eu emitir, preciso capturar”, afirma.
Alternativas. Contudo, para Rafaela, só o mercado de carbono não resolve a questão. “Se quisermos avançar na transição, esta terá de congregar economicidade e impactos sociais positivos”, ressalta. Nesse sentido, a participação do setor privado é fundamental. A especialista destaca que esse debate deve estar na agenda da COP30 — a 30ª Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas —, que acontecerá no Brasil em novembro deste ano.
Investimentos. É preciso tornar a transição mais atraente para o empresariado. “Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), em torno de 90% dos investimentos terão de vir do setor privado. Não é o Development Bank nem o governo que vai injetar esse dinheiro. E o setor privado tem investidores por trás, que só vão investir se tiverem retorno”, avalia Rafaela.
Pragmatismo econômico é a chave para a transição
Pragmatismo. Na opinião de Rafaela, o pragmatismo econômico, além de um desafio, é fundamental nessa agenda. “Como posso fazer mais com menos? Como fazer de forma mais econômica, mais competitiva e verde?” São esses questionamentos que vão fazer com que o Brasil avance, avalia Rafaela.
Agregar valor. Para estimular os investimentos em modelos renováveis, é preciso valorizá-los economicamente. “Os exemplos que nos trouxeram até aqui, definitivamente, não são aqueles que vão nos catapultar para frente”, afirma. “Se quero sair de onde estou e avançar, preciso agregar valor ao meu produto. E o crédito de carbono é só um pedacinho”, completa.
O preço da preservação. “Se vou manter minha floresta em pé, alguém terá de me ajudar a pagar essa conta”, explica. “Se quero agregar mais valor, não será açaí, andiroba e copaíba; tenho que pensar nos fármacos, na indústria da beleza, nos celeiros de inovação. Isso, sim, gera mais valor agregado.”
Negociação. De acordo com Rafaela, o pragmatismo também deve influenciar as negociações com outros países quanto à pauta energética. “Às vezes, começa a euforia, a empolgação: ‘No Nordeste, sobrou energia barata do sol, do vento. Agora, é só trazer o data center para cá e tudo estará resolvido’. Não é assim que as coisas funcionam. Já passamos da fase de trocar ouro por espelhinho. Agora, devemos sentar com mais maturidade à mesa para discutir”, adverte.
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