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Sem investigações e com efetivo envelhecido, qual é o futuro da Polícia Civil?

DEBATEDORES | Guaracy Mingardi

A falta de preparo das polícias civis para desmantelar toda a organização por trás do furto e do roubo de smartphones nos Estados é um sinal de alerta para uma instituição de segurança pública cada vez menos eficiente, “enferrujada” estruturalmente — e em via de extinção. Esse tipo de crime alimenta um mercado ilegal com fortes demandas nacional e internacional por peças ou aparelhos baratos, fortalecendo as grandes conexões dos criminosos. Contudo, apesar de ser “o crime do momento”, não há indicativo de que esteja em curso, no País, um combate feito com inteligência. Pelo contrário, as pessoas pouco enxergam razões para relatar o crime.

“O Brasil não investiga mais. As nossas polícias estão deixando de investigar. As polícias civis são órgãos praticamente em extinção, deixadas de lado, com um investimento ínfimo. Por isso, estão desaparecendo. Em boa parte delas, há um efetivo envelhecido, menor do que o necessário e burocratizado”, adverte Guaracy Mingardi, cientista político e especialista em segurança pública. “Sem investigação, não se combate o crime profissional.”

Além disso, complementa, a falta de pessoal, assim como o tempo que se leva para treinar e pôr equipes nas ruas, são dois dos fatores que pesam na qualidade do que a polícia é realmente capaz de entregar à sociedade. “É preciso desburocratizar a Polícia Civil, retirando destas obrigações que tomam muito tempo, como reclamações de barulho em prédios. Isso deveria ser uma questão da prefeitura, não da Justiça criminal. Isso lhe daria mais tempo para se dedicar à investigação”, exemplifica.

A “mão pesada” do Estado não é solução para a segurança pública

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) calcula que as empresas gastam, diretamente, quase R$ 60 bilhões ao ano com segurança — enquanto indiretamente, o custo social gira em torno de R$ 200 bilhões investidos em câmeras de segurança, seguros, escolta armada, carros blindados, entre outros, que inflam os preços praticados pelo Comércio e pelos Serviços. O ônus recai sobre os consumidores.

Na entrevista, Mingardi analisa que, apesar de a falta de segurança pública ter se tornado uma das principais queixas dos cidadãos, uma linha “mão dura” de atuação do Estado contra o crime não é eficiente. “Já tivemos isso aqui [em São Paulo] durante muito tempo. Funciona por um breve período, mas tudo volta a ser como antes. Ao longo do tempo, os criminosos encontram brechas no sistema, o nível de corrupção [estatal] aumenta”, argumenta o cientista político.

“Essa ‘mão dura’ ainda tem outro problema: quando não se respeitam as garantias legais, acaba-se por mandar para a prisão gente que não tem nenhuma relação com aquele crime, além de todas as mortes que ocorrem”, complementa Mingardi.

A gravação foi realizada em parceria entre o Canal UM BRASIL e a Revista Problemas Brasileiros (PB) — ambas realizações da FecomercioSP.

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