Recrutamento de pessoas negras é só a ponta do iceberg
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Além de criar mecanismos proativos de atração de profissionais negros, as empresas comprometidas com a inclusão precisam viabilizar e apoiar o desenvolvimento destes funcionários dentro da organização, tendo em vista as condições desfavoráveis de formação que a grande maioria enfrentou ao longo da vida. Do contrário, por falta de competências exigidas para a progressão na carreira, corre-se o risco de promover um ambiente prejudicial à autoestima e à saúde mental dos trabalhadores negros. Esta é a avaliação de Christiane Silva Pinto, gerente de Marketing do Google Brasil e fundadora do comitê AfroGooglers.
Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, Christiane diz que, no que diz respeito à inclusão e à diversidade, recrutar profissionais negros é só “a ponta do iceberg”.
Ela conta que quando ainda era estagiária do Google, em 2013, percebeu que pessoas negras representavam menos de 1% de um corpo funcional de cerca de 400 funcionários da empresa. Com isso, fundou o AfroGooglers, comitê composto por funcionários “negros e aliados” cujos objetivos são promover a conscientização interna sobre justiça social e apoiar o desenvolvimento de profissionais afrodescendentes na multinacional.
Na entrevista, que faz parte da série UM BRASIL e BRASA EuroLeads – um novo olhar sobre o Brasil, com apoio da Revista Problemas Brasileiros (PB), Christiane destaca que, para abraçar a diversidade, as empresas precisam mudar a mentalidade dos profissionais responsáveis pelo recrutamento dos funcionários.
“Não é só uma universidade considerada ‘top de linha’ que agrega habilidades à carreira de alguém. A trajetória de vida também traz muitas ferramentas”, pontua.
Christiane diz que, para promover a inclusão de negros no quadro funcional, o Google Brasil retirou a exigência de domínio da língua inglesa. Contudo, após facilitar a entrada, era preciso prover condições de os profissionais se desenvolveram dentro da corporação.
“Não basta pensar apenas na contratação, porque, senão, vamos ver esses profissionais entrando nas nossas empresas, tendo grandes dificuldades de desenvolvimento e, às vezes, saindo até mais vulneráveis do que entraram, em quadros de depressão e ansiedade”, salienta.
Com base neste diagnóstico, ela revela que a gigante de tecnologia repensou o modelo de contratação. “O pilar, que era recrutamento, se tornou carreira e saúde mental, justamente porque, conforme fomos avançando na seleção de pessoas negras, entendemos que este não era o único desafio. Era a ‘ponta do iceberg’”, afirma.
“A retenção, a progressão de carreira e a saúde mental dos profissionais negros em ambientes majoritariamente brancos, como são as multinacionais ainda hoje, também são grandes desafios”, acrescenta.
Modismo ou comprometimento
À frente da gerência de Marketing do Google, com foco em micro e pequenas empresas, Christiane diz que, na atualidade, as empresas vivem uma “ânsia por se posicionar”. Ela aprova iniciativas de representatividade, mas critica campanhas de comunicação e de audiovisual feitas “da boca para fora”.
“Muitas empresas querem saltar para o posicionamento e mostrar no marketing. Isso tem muito valor, mas não se sustenta sozinho. A mudança estrutural realmente só vem se houver diagnóstico e comprometimento de longo prazo, com investimentos de dinheiro e de tempo. Se não, é uma moda”, avalia Christiane.
Assista à entrevista na íntegra e se inscreva no Canal UM BRASIL!
(Foto: Lu Aith)
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