Negligenciada no Brasil, ciência é defesa e resposta contra a pandemia
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O Brasil está vivenciando, nos últimos dez anos, um desmonte de sua capacidade de realizar pesquisas. Todos os países desenvolvidos enxergam na ciência um motor de desenvolvimento econômico e social, um investimento a longo prazo, pois é isso que trará inovação, novos produtos, e que também irá impulsionar a economia e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Aqui no Brasil, até hoje não temos essa visão e isso vem se acentuando nos últimos anos, critica Lygia da Veiga Pereira, geneticista e líder do projeto DNA do Brasil, da Universidade de São Paulo (USP).
“É muito difícil ser competitivo nessa situação, e acho que estamos tendo uma lição disso nesse período de pandemia, pois todos correram para os cientistas para saber que vírus é esse, como nos proteger, como tratar e prevenir, etc. É a ciência que responde.”
Lygia é a cientista que gerou a primeira linhagem brasileira de células-tronco a partir de embriões humanos.
Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, ela explica dois problemas decorrentes da falta de visão da ciência como solução. “Se a Nação não tem essa cultura da ciência, começa a fazer políticas públicas não baseadas em ciência, e isso é um desastre, como temos visto. Além disso, ficamos dependentes de outros países”, reforça. “No geral, essa dependência não é um problema, mas quando estamos em uma situação como a atual, quando o mundo inteiro precisa das mesmas coisas – e nós não temos autonomia para desenvolver os insumos da vacina –, aí nos damos conta do valor da ciência.”
“Certamente, não há como nos comparar aos Estados Unidos [no total de recursos direcionados a pesquisas], mas e à Índia? Eles investiram em uma capacidade produtiva científica e estão exportando vacina para o mundo. Por que não fizemos isso? Temos recursos humanos, mas é uma questão de vontade política”, ela pondera.
Uma solução ineficaz que coloca a vida em risco
Na entrevista, Lygia também analisa o impacto da recomendação política de um remédio considerado ineficaz contra o covid-19 sobre a saúde pública.
“Os processos da ciência não são coisas que se aplicam apenas aos cientistas, se aplicam para a vida. Políticas públicas devem ser baseadas em ciência. Não adianta querer que um certo remédio funcione para o covid-19. Se a ciência diz que não funciona, pode querer o quanto quiser, mas não vai dar certo, só haverá desperdício de recursos públicos, colocando pessoas em risco”, reitera a geneticista.
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