Fechar

Ives Gandra Martins e outros especialistas debatem sobrecarga do Judiciário brasileiro

DEBATEDORES | Ives Gandra Martins Nelson Jobim Marco Aurélio Mello Edson Fachin Janaina Paschoal José Eduardo Faria Márlon Reis Oscar Vilhena Marivaldo Pereira Renato Nalini Ives Gandra Martins Filho Ayres Britto Maria Cristina Peduzzi

A Justiça brasileira tem uma sobrecarga de aproximadamente 100 milhões de ações pendentes – problema que, segundo o professor titular da Faculdade de Direito da USP, José Eduardo Faria, tem raízes profundas e antigas.

“O Brasil vem de uma tradição jurídica que vem do Direito romano, muito burocratizado, cheio de etapas e bastante ritualizado”, explica Faria, em documentário do UM BRASIL sobre o Judiciário brasileiro.

Ele e outros especialistas da área discutiram sobre as alternativas para diminuir a burocracia. Na conversa, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto avalia que o Judiciário é o ponto de unidade do Legislativo e do Executivo. “Então, tudo desemboca para o judiciário quando os conflitos e as controvérsias não se resolvem amistosamente”, detalha.

Britto acredita que o Brasil vive um momento de depuração e de compreensão de que o Judiciário não pode deixar de ser esse ponto de equilíbrio. “O desafio é persistir nesse modelo democrático concebido pela Constituição de 1988”, diz.

O jurista Ives Gandra Martins critica o fato de não termos um modelo como nos países europeus e o nos Estados Unidos em que a arbitragem – método alternativo de resolução de conflitos – é tida como normal, principalmente em casos de matéria econômica. “Se nós examinarmos o elenco dos direitos e dos deveres da cidadania, verificamos que praticamente a Constituição esqueceu de colocar os deveres.”

Um dos grandes empecilhos, segundo o diretor da Escola de Direito da FGV-SP, Oscar Vilhena, são os litigantes sistêmicos, com destaque para o Poder Público, a Receita Federal e algumas áreas do setor empresarial. “Uma das leituras é que como a Justiça brasileira é muito lenta, tem muitos recursos, alguns setores entendem que cometer certas ilegalidades pode não ser um mau negócio. Há gente que usa estrategicamente o Poder Judiciário para não cumprir com suas obrigações. É isso que precisa ser mudado”, afirma.

O ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Ives Gandra Martins Filho aponta uma prática perceptível claramente em algumas empresas: “Ao fazer os cálculos, a empresa conclui que, se aplicar o dinheiro no mercado financeiro e esperar a condenação – até pelos juros e correção monetária aplicados na Justiça do Trabalho –, vale mais a pena ficar protelando”.

O ministro aposentado do STF Nelson Jobim indica que são muitos os interesses em jogo. “Mexer no sistema judiciário significa mexer no mercado de trabalho e naqueles que não querem que exista mudança. Quando você vai mexer, entende por que existe recurso, por que existe isso e aquilo. Porque tem gente interessada nisso”, ressalta.

O documentário tem curadoria do Conselho Superior de Direito da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Também participam do debate: José Renato Nalini, Nelson Jobim, Marco Aurélio Mello, Edson Fachin, Maria Cristina Peduzzi, Diego Werneck, Janaína Paschoal, Márlon Reis e Marivaldo Pereira.

Mais Vistos
OBRIGADO POR SE CADASTRAR NA NOSSA NEWSLETTER! AGORA VOCÊ IRÁ RECEBER INFORMAÇÕES SOBRE QUESTÕES POLÍTICAS, ECONÔNICAS E SOCIAL DO BRASIL. CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER!