Sem se dar conta de suas ações, a humanidade demorou demais para entender o tamanho dos estragos que tem causado ao meio ambiente. Contudo, o mundo exterior não é o único em degradação. Em razão de uma série de imposições sociais, vive-se, concomitantemente à ameaça ambiental, tempos de crise da natureza humana, uma vez que o processo civilizatório e o progresso tecnológico não entregaram o que prometiam: felicidade plena e bem-estar.
Estas são algumas observações compartilhadas por Eduardo Giannetti, economista, filósofo, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, gravada em parceria com o 8º Encontro Internacional da Felicidade e Bem-Estar (Global Meeting for Happiness), realizado no fim de agosto, em Belo Horizonte (MG), pelo Instituto Movimento Pela Felicidade.
Na avaliação de Giannetti, o ser humano, ignorando as consequências de suas ações no mundo, transformou as condições de vida, de modo que não pode mais fechar os olhos para a questão ambiental e para os valores e formas de conduta em sociedade.
“Quem deseja a mudança climática? Ninguém. No entanto, é o fato central da vida humana no século 21. É o resultado das nossas ações, mas não das nossas intenções. Não é uma fatalidade, mas uma escolha humana”, pontua o filósofo.
Neste sentido, Giannetti aponta que a contemporaneidade é marcada pelo que chama de “crise da ecologia psíquica” – isto é, um colapso que ocorre internamente nas pessoas.
“O cerceamento deste psiquismo profundo do qual somos herdeiros, como o nosso corpo, está sendo lacerado e massacrado por exigências que nos são impostas desde muito cedo na vida em sociedade, num ambiente extremamente lógico, competitivo, severo e restritivo das pulsões do ser humano. Se este é o caso, estamos diante não só de uma crise ambiental, mas também de uma crise da ecologia psíquica”, reflete o escritor.
“Tenho a impressão – esta é a minha hipótese – de que estamos agredindo esta compleição anímica com a mesma severidade com que agredimos a natureza externa”, reforça.
Renda e bem-estar
Diante das transformações pelas quais o mundo passa, Giannetti destaca que, de acordo com pesquisas empíricas, a ideia de associar riqueza a uma vida feliz não se sustenta.
“Não existe nenhuma relação tão direta entre renda per capita e bem-estar humano. Há uma relação muito forte nos estágios iniciais, quando um país sai de uma renda muito baixa e conquista um padrão de vida tolerável de conforto e segurança material. No entanto, a partir de um certo nível de renda, estas curvas se descolam”, afirma.
“A renda em países como Alemanha, Japão e Estados Unidos continuou crescendo acentuadamente ao longo do pós-guerra, ao passo que os indicadores de bem-estar humano ficaram totalmente estáveis, como uma linha horizontal”, complementa.
Além disso, o filósofo aponta que as pessoas divergem quanto à forma que avaliam o estado de felicidade. O brasileiro, especificamente, costuma se dizer feliz, mas apenas 25% acham que os demais têm uma vida plena de contentamento.
“Quando se responde em primeira pessoa, olha-se para dentro, para o seu mundo interno. No entanto, quando se pergunta dos demais, não se usa (nem se pode usar) o acesso que cada um tem dos seus estágios de consciência. Você observa as condições objetivas de existência: as pessoas têm um péssimo emprego, ganham muito mal, pegam um trânsito horroroso, estão num transporte público deplorável, não têm acesso à saúde e a elementos muito fundamentais da cidadania, como segurança. As pessoas não podem estar e ser felizes. É evidente que elas não são”, reflete o imortal da ABL.
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Imagem: Divulgação/Renato Parada