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Brasil não pode dar as costas aos seus vizinhos

DEBATEDORES | José Maria de Souza Júnior Jaime Spitzcovsky

Maior país da América do Sul e responsável por metade da economia e da população da região, o Brasil, ainda que anseie firmar laços comerciais com nações desenvolvidas, não pode negligenciar os fatos sociais e as turbulências institucionais que ocorrem nos territórios vizinhos. Pelo contrário, a maior potência sul-americana deveria, segundo o professor do curso de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco (Firb) e doutor pelo Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), José Maria de Souza Júnior, se colocar à disposição para mediar conflitos de qualquer natureza pelos quais os países da região atravessam.

Em entrevista ao UM BRASIL – uma realização da FecomercioSP –, feita em parceria com o InfoMoney, Souza Júnior destaca que, no momento em que diversos países sul-americanos são acometidos por convulsões sociais – como o Chile, a Bolívia, a Argentina e a Venezuela –, o Brasil, conhecido internacionalmente por uma postura diplomática conciliadora, não pode dar as costas aos seus vizinhos.

“O Brasil não pode negligenciar a sua região. A gente brinca que no sistema internacional não tem como mudar de condomínio, escolher os seus vizinhos. Então, o Brasil tem que lidar com uma política de Estado em relação a eles”, afirma Souza Júnior.

Nesse sentido, o professor salienta que as relações internacionais, especialmente com países fronteiriços, não devem ser emperradas em função de as ideologias dos chefes de Estado não serem compatíveis. Para exemplificar, ele cita que o ex-presidente da Bolívia Evo Morales esteve presente nas cerimônias de posse do presidente Jair Bolsonaro e do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

“A questão ideológica sempre existe, neutralidade é uma falácia. Mas tem de dar valor para políticas de Estado. Tocar na questão ideológica, trazer isso à tona [nas relações internacionais] é muito contraproducente”, reforça o pesquisador.

De acordo com Souza Júnior, os recentes protestos na América do Sul, a despeito das particularidades de cada nação, têm em comum a fragilidade da economia dos países da região. O continente é marcado pela desigualdade social e pela exportação de bens primários, atividade que, segundo ele, não consegue gerar benefícios sociais de forma ampla.

“Essa crise que vamos vivendo tem uma característica estrutural do nosso modelo produtivo, da nossa participação no comércio exterior e da nossa falta de cultura democrática”, ressalta.

Concomitantemente à turbulência social na América do Sul, potências econômicas com as quais o atual governo brasileiro busca intensificar o fluxo comercial, sobretudo os Estados Unidos e a China, se veem em uma guerra tarifária, pondo em xeque o modelo liberal que, em tese, propicia maior participação de países em desenvolvimento nas trocas internacionais.

“China, Estados Unidos e União Europeia são atores que não podem ser ignorados no sistema internacional. Se a gente olhar para o Brasil, por exemplo, para mim, não pode ignorar quatro atores: esses três e o seu próprio entorno – isso vale para os outros países da América Latina também. Entendo que, com uma escalada dessa guerra comercial, só temos a perder”, avalia o professor.

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