Brasil está perdendo oportunidades no mercado de carbono
ENTREVISTADOS
“O Brasil está perdendo várias oportunidades. O mercado de carbono é uma delas”, avalia Alexandre Prado, líder em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil. Com uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, o País tem potencial para se tornar uma liderança no mercado internacional de carbono, mas precisa tomar a frente na agenda da descarbonização, explica Prado.
Em conversa com a Revista Problemas Brasileiros e o UM BRASIL — ambas realizações da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, o líder da WWF-Brasil ainda comenta as expectativas para a COP30 e o futuro das transições energética e tecnológica nacionais.
A entrevista foi realizada no dia 15 de agosto.
Mercado de carbono
- Os compromissos foram firmados. O Brasil se comprometeu a chegar a 2030 emitindo 50% menos carbono que em 2005, e para 2050, precisa chegar à neutralidade de carbono. Hoje, o País é o sexto maior emissor de Gases de Efeito Estufa (GEEs) do mundo. Para alcançar as metas firmadas no âmbito do Acordo de Paris, será preciso reduzir as emissões rapidamente.
- O Brasil precisa fazer o dever de casa. Prado defende que a entrada no mercado de carbono é uma oportunidade que não podemos perder. “O País, por causa da Amazônia, pela nossa matriz energética, lidera a agenda ambiental. E espera-se que seja liderança no mercado de carbono”, ressalta.
- Como funciona? No mercado de carbono, empresas ou governos que cumpram metas de redução de emissões podem vender créditos excedentes, enquanto empresas ou países que emitam mais GEEs do que deveriam podem comprar esses créditos. A adoção desse mecanismo incentiva o aumento de projetos de conservação de florestas e a adoção de energias limpas pela indústria, por exemplo.
- A discussão está travada no Congresso. O Executivo tenta aprovar um Projeto de Lei (PL) para criar o mercado de carbono antes da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), mas a proposta está momentaneamente travada por tensões entre a Câmara Federal e o Senado. “A discussão recente está muito enviesada, há muito interesse de lobbys específicos, o que não nos coloca na vanguarda, mas na retaguarda”, avalia o líder da WWF-Brasil.
O Brasil na COP30
- O País sediará o encontro. Em novembro do ano que vem, a COP30 vai acontecer no coração da Amazônia, em Belém do Pará. Prado avalia que é esperado que o tom desse encontro seja de maior cobrança, em meio a uma crise climática sem precedentes.
- O Brasil terá de mostrar grandes entregas, afirma o líder da WWF-Brasil. “Seja na discussão da redução do desmatamento, seja na eliminação das emissões no uso da terra, seja na redução de emissões do setor de energia”, completa.
- Outras nações devem ser pressionadas. Prado ainda destaca que um dos papéis do Brasil será o de pressionar os demais países para que também se comprometam com anúncios de grandes compromissos. “Precisamos fazer os dois: entregar e anunciar. É isso que se espera do Brasil na COP30”, conclui.
Transição energética
- O Brasil já investe em fontes de energia “limpas”. Em 2023, foram US$ 34,8 bilhões investidos em transição energética, de acordo com o relatório divulgado pelo Ministério de Minas e Energia (MME). O montante abrange iniciativas de energia renovável, captura de carbono, hidrogênio verde e veículos elétricos, em substituição às fontes e aos combustíveis emissores de GEEs.
- Mas a transição energética está distante de ser concretizada. Não há alternativas, defende Prado. Se o País não eliminar o uso de combustíveis fósseis, correremos o risco de ficar para trás no debate energético. “É fácil largar o petróleo? Claro que não, mas qual é a proposta?”, questiona.
- A transição também é tecnológica. “Como você acha que vai estar a economia daqui a 80 anos, em 2100?”, indaga o líder da WWF-Brasil. “Não haverá mais carro movido a combustão. Queremos chegar na frente ou ser carregados?”, provoca.
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