Brasil é um laboratório gigantesco para setor privado empreender soluções inovadoras
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No ano passado, a ordem dos investimentos realizados no Brasil pela International Finance Corporation (IFC) foi em torno de R$ 22 bilhões. O volume cresce à medida que a instituição redobra a aposta no País, de modo que há a expectativa de um novo aporte recorde a ser contabilizado no fim do ano fiscal de 2023. O que torna o Brasil tão interessante aos olhos da organização que é um braço do Banco Mundial focado em parcerias e financiamentos da iniciativa privada?
Para Carlos Leiria Pinto, gerente-geral da IFC no Brasil, o País possui um conjunto de atributos que potencializam a confiança internacional, a começar pela sua escala e pela segurança institucional. “Trata-se de uma nação de dimensão continental, que tem institucionalidade, estabilidades política e democrática e onde funcionam tanto a regulação quanto o sistema judicial. Além disso, tem um grau de maturidade que permite considerar soluções inovadoras”, pondera, em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Na conversa, comandada pela jornalista Juliana Rangel, o representante da IFC explica que a instituição investe em mais de cem países — e que a prioridade no Brasil vem crescendo. “Há três anos, em termos de importância no nosso portifólio de investimentos, o Brasil estava em quarto lugar, atrás de Índia, China e Turquia. Hoje, só está atrás da Índia, mas se aproximando. A IFC está apostando muito no Brasil, pois o País gera as condições para que possamos apoiar o setor privado a fazer mais investimentos.”
Ele exemplifica com as Parcerias Público-Privadas (PPPs), de forma que o Brasil, na visão de Leiria Pinto, talvez seja o país em desenvolvimento que mais tenha experiência e empenho para atrair o investimento privado a áreas fundamentais da economia. “Veja só o caso da eletricidade. Quem produz energia no Brasil, essencialmente, são empresas privadas; quem transmite e distribui, também. O País tem criado esse ambiente favorável. Eu costumo dizer que nós vemos o Brasil como um fantástico e gigantesco laboratório, onde é possível apostar e fazer soluções inovadoras que a IFC gosta de exportar para países que não têm o mesmo grau de desenvolvimento.”
Leiria Pinto ainda enfatiza que uma das funções da IFC é a de mobilizar o capital de terceiros, o que tende a ser muito positivo ao Brasil. “Para cada real que investimos, queremos trazer outros parceiros que invistam conosco, pois eles confiam muito na IFC e na nossa capacidade técnica de escolher investimentos corretos e sustentáveis. Eles se sentem confortáveis para vir para cá.”
Pequenas e médias empresas no radar da IFC
No bate-papo, o gerente-geral da IFC comenta que um setor de investimentos muito importante para a instituição é a Pequena e Médias Empresa (PME), “que gera mais de 20% da economia brasileira e 50% dos postos de trabalho”, argumenta. Ele lembra que, para os pequenos negócios, que precisam investir em máquinas, o País deveria criar um ambiente mais oportuno para financiamentos de médio prazo nos bancos, o que ainda é muito difícil (na sua avaliação), considerando que praticamente apenas capital de giro está acessível a esses empreendedores.
Clima é tema transversal para os investimentos estrangeiros
Na entrevista, Leiria Pinto também comenta que a IFC está prestes a redefinir o ciclo estratégico para os próximos seis anos quanto a projetos no Brasil. A partir disso, tudo o que está relacionado ao clima ganhará uma expressão maior no portfólio de investimentos da instituição.
“Neste momento, o tema ‘clima’ é transversal, e tudo o que queremos fazer terá de ter um componente de adaptação ou mitigação climática. Pela sua dimensão e biodiversidade, o Brasil é um país incontornável no que tange a esse tema. É um erro pensar que o mundo conseguirá trabalhar com o problema se o Brasil não estiver inserido no contexto. Eu diria que não somente estar lá, mas liderar o mundo na direção das melhores soluções.”
Ele ainda explica que outra área fundamental de investimento, que ganhará mais participação no portfólio, é a de Energias Renováveis. “O Brasil vai liderar a produção de energias solar e eólica. Também já estamos olhando no futuro — no hidrogênio verde —, que para nós, é algo que podemos ver claramente a Nação também liderando”, conclui.
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