Especialistas debatem Reforma da Previdência e crescimento econômico
ENTREVISTADOS
Entre as mudanças na legislação propostas pelo governo federal, a Reforma da Previdência se destaca como uma das que mais gerou debate entre os brasileiros. Para contribuir para tais discussões, o UM BRASIL, em parceria com a Fundação Lemann, traz dois economistas de escolas de pensamento divergentes, em debate mediado pela jornalista Mara Luquet: a professora de Macroeconomia e Economia do Setor Público da UFRJ, Denise Lobato Gentil, e o chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV), Samuel Pessôa.
Durante a conversa, os entrevistados não falam apenas sobre o regime de aposentadorias, mas também tocam em assuntos correlatos, como o crescimento econômico, a produtividade e as análises demográficas que acusam o envelhecimento da população. A professora Denise Gentil explica que, em sua visão, o aumento da produtividade seria mérito da indústria de transformação.
Segundo ela, é por meio dessa indústria que se dissemina o progresso técnico que, por sua vez, é capaz de aumentar a produção. “Quando o governo [por meio das aposentadorias] coloca dinheiro para as famílias consumirem, as pessoas vão ao mercado e transformam essa renda comprando alimentos e produtos industrializados. O consumo dessas famílias traz um enorme estímulo para a indústria nacional”, afirma. “O consumo é indutor do investimento, não existe investimento que não seja precedido por ele.”
“O multiplicador do gasto com previdência é 1,5, ou seja, a cada 100 unidades de gasto com aposentadorias, você aumenta o PIB em 150 unidades”, explica a professora. “O gasto público tem capacidade muito grande de potencializar o crescimento ao longo do tempo.” Samuel Pessôa apresenta um ponto de vista alternativo, com uma visão neoclássica da análise econômica. Ele discorda, por exemplo, de que estimular o consumo é a melhor forma de gerar crescimento. “O gasto público gera crescimento, mas aumenta a inflação e requer aumento de juros”, justifica.
Segundo ele, uma redução dos gastos com previdência por parte do governo levaria as pessoas a poupar mais. “Em longo prazo, o que faz uma economia crescer é progresso tecnológico, e não poupança. Acho que o Brasil nunca vai ter a renda per capita dos Estados Unidos, temos outra sociedade e outros valores. Para sair da renda média, precisamos poupar”, afirma o economista.
Para Denise, a população idosa do Brasil é superestimada na pesquisa PNAD do IBGE, análise que é usada para justificar as mudanças na aposentadoria, que seriam necessárias em decorrência do envelhecimento da população. “Entre 2022 e 2026, teremos o auge da população jovem no País. O que fico me perguntando é: por que ficamos discutindo a população idosa em 2050 e não discutimos a população jovem dos anos de 2020?”, indaga Denise.
Segundo ela, o que deveria existir é uma reforma contrária a essa: ao invés de ser excludente, a alteração deveria ser inclusiva. Ela defende, por exemplo, diferentes idades mínimas para aposentadoria, dependendo do tipo de trabalho e da região do País, dadas a grande extensão territorial e a diferença social do Brasil. “Idades mínimas devem ser adaptadas para o tipo de sacrifício físico da atividade econômica. Não faz sentido uma idade única para o País inteiro, seria punir muito a população mais pobre.”
Pessôa discorda: “Não faz sentido a pessoa se aposentar aos 52 anos e viver até os 85 – os cidadãos têm que se organizarem para fazer outras coisas, ter uma vida produtiva. A reforma tem uma dimensão microeconômica que é fazer as pessoas trabalharem mais tempo.” “Discuto Previdência pelo gasto, não pela receita. No Brasil, a carga tributária é 35% do PIB, e a Previdência representa 14% do PIB. A conta fecha, mas, pergunto: é razoável um país com essa demografia gastar 14% do PIB em pagamento de aposentadorias? Para mim é uma insanidade”, conclui.
ENTREVISTADOS


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