“Estudos mundiais mostram que a concentração de renda no topo só cai em situações muito excepcionais, como guerras e epidemias.” A afirmação é da diretora do Centro de Estudos da Metrópole e professora de Ciência Política da USP, Marta Arretche.
Em entrevista ao UM BRASIL, ela comenta a desigualdade social e a influência das políticas públicas municipais e federais para reduzir as diferenças de renda no País. Para Marta, o conceito de desigualdade é amplo e abstrato. Ela explica que, por isso, há duas interpretações para entender como a desigualdade social no Brasil mudou nos últimos anos. A primeira, segundo ela, é a de que a desigualdade está estável.
“Essa abordagem se baseia em estudos que medem quanto o 1% mais rico extrai do conjunto ‘riqueza nacional’. Os dados são muito sólidos em mostrar que a renda do 1% mais rico está estável no Brasil”, destaca. A segunda interpretação, segundo a professora, é a de que a desigualdade no Brasil caiu.
“Essa visão se refere aos outros 99% dos brasileiros. O que tivemos no País, muito acelerado nos governos petistas e em outros, foi uma redução da extrema pobreza, que ocorreu, de fato, a partir da implantação do Bolsa Família, e uma elevação do valor real do salário mínimo, que teve um impacto importante sobre setores menos qualificados do mercado de trabalho”, diz.
“Houve um processo de inclusão importante, que reduziu a desigualdade, embora tenha também ocorrido num contexto em que o 1% mais rico manteve uma parcela importante da riqueza total”, ressalta.
Sobre salários e inflação, Marta Arretche observa que houve uma valorização do salário mínimo nas últimas décadas e uma aproximação entre ele e a média dos salários da Nação. Acerca do papel das economias locais na distribuição de renda, ela avalia que a dinâmica econômica das cidades brasileiras é pouco afetada por aquilo que os municípios fazem, porque as políticas de renda são federais.
“Os municípios têm impacto muito grande nas desigualdades quanto aos serviços, pois têm responsabilidade sobre todas as políticas que têm a ver com o bem-estar dos cidadãos, à exceção da segurança pública: escola, habitação, saúde, distribuição de terras, entre outros”, esclarece. “A autonomia para decidir sobre a política é muito constrangida pela regulação federal, mas o município pode escolher onde vai gastar – se na periferia ou no centro –, e isso afeta muito em termos de desigualdade.”