“Três poderes são responsáveis pela insegurança jurídica no País”, diz Gustavo Loyola
ENTREVISTADOS
MEDIAÇÃO
Um dos principais entraves para o crescimento da economia brasileira é a insegurança jurídica presente no ambiente de negócios, cujos responsáveis são os três poderes que constituem a nação – Legislativo, Executivo e Judiciário. Essa é a avaliação do ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola. O economista participou, nesta segunda-feira (6), do “Fórum Estadão – Equilíbrio Entre os Poderes”, evento realizado na sede da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), em parceria com o UM BRAISL, o jornal O Estado de São Paulo e a Tendências Consultoria.
Em entrevista ao UM BRASIL, Loyola diz que os três poderes têm sua parcela de culpa por propagar a insegurança jurídica no País e, consequentemente, atrasar o avanço da economia. “As leis são muito ruins e mudam muito. A Constituição de 1988 é extremamente detalhista, analítica, intervencionista no campo da economia e abre espaço para interpretação do Judiciário. O Legislativo também é culpado por omissão, muitas questões não são reguladas e o Judiciário acaba ocupando esse vácuo”, diz Loyola.
“O Executivo também é um perturbador desse equilíbrio, porque promove más políticas públicas e contribui para a existência de um sistema tributário extremamente complexo e de difícil entendimento por parte do contribuinte”, completa. De acordo com o ex-presidente do Banco Central, o que diferencia os países desenvolvidos das nações em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, é a capacidade de as instituições criarem um ambiente favorável para o crescimento econômico. “O Brasil, nas últimas décadas, teve uma evolução institucional muito grande, mas, infelizmente, fizemos apenas metade da lição, a outra está para ser feita. O boom das commodities, esse momento muito favorável que o País teve no começo dos anos 2000, tirou totalmente o ímpeto reformista. Ao contrário, tivemos uma degradação das instituições. A crise, hoje, traz uma oportunidade de retomar o ímpeto reformista em vários aspectos”, afirma.
Loyola se diz otimista com o rumo que a economia do País tem tomado, mas ressalta que o processo de reformas deve ser contínuo, não se limitando ao atual governo. “A história mostra que as reformas são incrementais. Acredito que é isso que vai acontecer no Brasil. Vamos ter mudanças na Previdência, na legislação trabalhista, alguma coisa na questão tributária, mas é preciso que esse processo seja continuado. Daqui a um ano e pouco vamos ter eleições. O governo atual tem muito pouco tempo, sem contar as dificuldades políticas, para implementar uma agenda de reformas abrangente”, diz o economista.
ENTREVISTADOS

CONTEÚDOS RELACIONADOS

Brasil encontra dificuldade para gerar receita acima dos gastos
Para Silvia Matos, do ‘Boletim Macro IBRE’, País está no negativo há mais de dez anos
ver em detalhes
Brasil e mundo vivem uma nova era geopolítica e tecnológica
De acordo com o cientista político Carlos Melo, a reorganização das forças globais deu origem a uma nova era “pós-Ocidente”
ver em detalhes
Na reforma do Estado brasileiro, foco deve estar no cidadão e no controle de gastos
Segundo Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper, e Felipe Salto, sócio da Warren Investimentos, é preciso superar o modelo federativo, que se esgotou
ver em detalhes