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Política

Polarização representa o mundo que “ensurdeceu” para o outro

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Publicado em: 23 de outubro de 2020

ENTREVISTADOS

MEDIAÇÃO

Guilherme Baroli

*Entrevista gravada no dia 10 de outubro de 2020

É “tristemente verdadeira” a polarização de opiniões presente na realidade atual do Brasil, que faz com que o cidadão, ao se negar a ouvir o outro, “se feche como ser humano”. Para a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), isso é sintoma não apenas de uma crise política ou de democracia, mas de uma crise humanitária.

Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, em parceria com a Brazilian Student Association (BRASA) – associação formada por brasileiros que estudam no exterior –, a magistrada se mostra preocupada com “tudo o que seja porta fechada”.

“O que me parece, agora, é que estamos em um momento de ‘surdez’, em que a pessoa se acha tão imbuída de certezas, em um mundo de tantas incertezas – o que é, por si, algo extremamente paradoxal –, que não precisa nem ouvir o outro até para ter certeza do que pensa. Então, em primeiro lugar, vejo essa polarização como um mundo que ‘ensurdeceu’ para o outro”, afirma a ministra. “Não acho, lamentavelmente – espero estar errada –, que quando perdemos um sentido, aguçamos necessariamente todos os outros. Às vezes, você não ouve o outro porque nem o vê, achando-se bastante”, complementa.

Segundo a ministra, o “aguçamento que se deu entre tendências opostas se tornou patente” no País. “São mesmo tempos difíceis – e difíceis, inclusive, por causa da pandemia, da questão econômica e porque temos este aguçamento de ânimos contrários acirrados e, muitas vezes, virulentos”, ressalta.

Violência contra as mulheres, fome e Judiciário

Na entrevista, Cármen Lúcia também comenta sobre questões sociais. De acordo com ela, que foi a segunda mulher a chegar ao STF, a população feminina, no Brasil, é formada por uma “maioria silenciada historicamente por uma sociedade que não gosta de ouvir” as suas vozes. “Nós todas, mulheres, sabemos que o preconceito é grande contra nós. É grande contra mim, que sou juíza, contra a advogada e é muito maior contra aquela que não teve as oportunidades que tivemos”, destaca.

Ainda sobre esse tema, a magistrada afirma categoricamente que o Brasil “é um país preconceituoso e machista” e alerta para o fato de que “a violência contra a mulher não para contra a mulher”, tendo desdobramentos sobre as crianças criadas nesse tipo de ambiente.

Questionada sobre a fome no Brasil, a ministra ressalta que isso vai na contramão do princípio da dignidade humana, previsto na Constituição. “A pessoa dependente de um prato de comida, sem ter o que fazer, sem ter um trabalho com o qual consiga o seu próprio sustento, é um outro tipo de escravidão, porque ela se torna refém do outro. Alguém pode tanto que pode ceder a ela um prato de comida”, frisa.

Situações como essa, avalia Cármen Lúcia, servem para “chamar dentro de cada um de nós a responsabilidade com o outro, é uma das lições que devemos aprender [na pandemia]”.

À sua classe, ela diz que cada juiz deve ter ciência de que o que faz tem consequências na vida das pessoas. “A Constituição sobreviverá com juízes que vão guardar, respeitar e fazer com que ela prevaleça. E acho que o papel do Supremo Tribunal Federal é sinalizar para os 18 mil juízes brasileiros que nós temos deveres com a República e, principalmente, com os cidadãos”, enfatiza.

Conheça os entrevistadores e os estudantes da BRASA

Na entrevista, além do jornalista Guilherme Baroli, do UM BRASIL, participaram os seguintes estudantes da BRASA:

Isabelly Veríssimo – estuda Neurociência Comportamental e Pré-Saúde Médica na Nova Southeastern University, na Flórida (EUA). É delegante do Global Peace Summit e diretora de parcerias no Impacta Jovem Brasil, projeto que visa a ajudar jovens de diversas partes do Brasil a se inserirem no meio acadêmico.

Leila Cordeiro – estuda Direito na Universidade Federal da Bahia (UFBA) com duplo diploma pela Universidade de Coimbra, em Portugal. É diretora financeira do departamento financeiro e jurídico da BRASA.

Rafael Martins – estuda Ciências da Computação e Engenharia na ENSTA Paris, na França, e é fundador da Brazil Quantum, a primeira comunidade brasileira focada em computação quântica.

Assista na íntegra! Inscreva-se no canal UM BRASIL.

Crédito da foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

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