Os legados histórico e cultural de D. Pedro II
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- O historiador Leandro Garcia acredita que D. Pedro II poderia ter deixado um legado melhor quanto à abolição da escravidão. “Demorou muito. Só em 1888. Realmente, foi muita demora. Essa é a minha grande crítica”, diz.
- Por outro lado, segundo Garcia, durante um reinado que durou quase meio século, D. Pedro II deu uma importância muito grande à literatura brasileira e ajudou a promover as obras e os estilos literários nacionais pelo mundo.
- O historiador explica, ainda, que a filha de Dom Pedro II, a Princesa Isabel, assumiu a regência do País por três vezes no século 19, mas, ainda sim, é invisibilizada por parte da historiografia.
Mais do que um estudo sobre literatura ou religião, Dom Pedro II e a cultura hebraica (Editora Francisco Alves, 2025) lança luz sobre o caráter, a sensibilidade e a visão estadista do imperador que moldou o Brasil do século 19. A obra revela como Dom Pedro II inaugurou uma diplomacia cultural pautada pelo diálogo entre civilizações e pela valorização do conhecimento como instrumento de aproximação entre os povos.
Nas páginas do livro, o leitor é convidado a explorar uma faceta pouco conhecida, mas profundamente reveladora, do último monarca brasileiro – sua aproximação com a cultura hebraica e o intenso intercâmbio intelectual que manteve com tradições religiosas e culturais do Oriente Médio.
Em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) –, o historiador Leandro Garcia, autor da obra, comenta também a relação do monarca com a literatura brasileira e o legado deixado por sua filha, a Princesa Isabel.
Ao deslocar o olhar do trono para a mesa de leitura, Garcia apresenta um Dom Pedro II intelectual, poliglota e inquieto, movido por uma curiosidade quase enciclopédica. Um homem que via nas letras e nas ciências não um privilégio da corte, mas uma forma de unir nações, crenças e culturas.
Para além da figura imperial, Dom Pedro II foi um construtor de pontes – entre o Ocidente e o Oriente, entre fé e razão, entre a tradição e o futuro. Seu fascínio pela herança judaica, suas viagens ao Oriente Médio e o diálogo com intelectuais hebraicos da época revelam um espírito cosmopolita, que acreditava na universalidade do conhecimento como caminho para a paz e o entendimento entre os povos.
Garcia pondera que o imperador poderia ter deixado um legado mais contundente no processo de abolição da escravidão.
“Demorou muito. Só em 1888. Realmente, foi muita demora. Essa é a minha grande crítica”, afirma. “Embora saibamos que não era uma decisão exclusivamente pessoal, porque precisava passar pelo parlamento – extremamente conservador e dominado pelos cafeicultores –, o atraso é inegável”, observa.
O historiador recorda que, à época, o parlamento brasileiro mudava pouco. O Senado, vitalício, cristalizava as elites no poder. “O parlamento do século 19, especialmente naquele momento, era dominado pelas grandes figuras da elite da época. E elas dominavam, inclusive, o poder econômico”, conclui.
A diplomacia cultural do Imperador
Prestígio. Segundo Garcia, durante um reinado que durou quase meio século, D. Pedro II deu uma importância muito grande à literatura brasileira e ajudou a promover as obras e os estilos literários nacionais pelo mundo.
Estímulo. “O que acho mais interessante é que essa valorização dele [da literatura brasileira] não foi apenas interna. Ele também teve todo um trabalho de financiar traduções de textos literários nacionais, especialmente de poesia, e divulgação desse material na imprensa do exterior”, conta.
Pioneirismo. De acordo com o escritor, o imperador construiu uma espécie de “diplomacia cultural” no século 19. “Apesar de que, na época, ainda não existia esse termo, essa configuração”, completa.
Um princesa à frente do País
Invisibilizada. “Muitos biógrafos colocam ela como uma mulher fraca: de cabeça e do ponto de vista de articulação política”, conta o historiador, sobre a visão da historiografia sobre a Princesa Isabel. Garcia lembra que a filha de Dom Pedro II assumiu a regência do País por três vezes no século 19, mas que isso é pouco falado ou valorizado.
Rol seleto. “Dona Isabel foi uma das poucas mulheres que governaram um país naquele século [no mundo Ocidental]. Nós temos a Rainha Vitória, na Inglaterra; a Rainha Dona Maria II, em Portugal — que, inclusive, era tia dela, irmã de Dom Pedro II —; e a Rainha Isabel, da Espanha”, conta.
Legado. A princesa não chegou a ser uma chefe de Estado, lembra Garcia, mas teve o poder de mandar no Brasil nas três ocasiões em que assumiu a cadeira do pai. “O País não teve guerra civil por isso. Em outras palavras, ela conseguiu lidar muito bem com o parlamento, com o Executivo e com a administração das províncias”, explica.
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