UM BRASIL UM BRASIL MENU conheça o um brasil
Voltar
ANTERIOR PRÓXIMO
 
Ciência e Saúde

Financiamento escasso e negacionismo fragilizam trabalho científico

  • COMPARTILHAR
Publicado em: 7 de maio de 2021

MEDIAÇÃO

Renato Galeno

Entre todos os desafios atuais que a ciência enfrenta, dois a colocam em uma posição frágil: a certeza das respostas prontas ou disseminadas pelas redes, e também a morosa busca por financiamento. Essas ponderações são do físico e deputado português Alexandre Quintanilha. Atualmente, ele preside a Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, e também a Comissão de Ética para a Investigação Clínica, ambas no Parlamento de Portugal.

Em relação à fragilidade, Quintanilha exemplifica com a seguinte hipótese: se uma pessoa pergunta a um cientista o porquê de haver uma pandemia, provavelmente ouvirá que ainda não há certeza, e que se levará tempo para a ciência responder. Por outro lado, a explicação mais fácil que obterá pela certeza da especulação é de que o vírus foi criado pelos chineses de propósito. “[Essa conclusão] leva três segundos para ser elaborada e provavelmente é muito mais assertiva [para essa pessoa]”.

Quanto ao financiamento, ele chama a atenção para o fato de que o trabalho desenvolvido pela ciência, que envolvam muita gente, é caro, e que a busca por recursos põe os cientistas em uma situação difícil de ter que garantir que haverá retorno. “Os próprios trabalhadores do conhecimento são forçados a exagerar [diante das fontes de recursos] a importância do trabalho que estão fazendo, caso contrário, não há financiamento. Novamente, isso coloca o conhecimento em uma posição frágil”, destaca. “Isto é perigoso, pois o conhecimento leva muito tempo. Às vezes, é preciso voltar atrás e seguir o caminho ao lado.”

Na entrevista, ele também comemora o avanço que as vacinas para covid-19 representam. “Nós temos um vírus há mais de 40 anos, o do HIV, que já matou dezenas de milhares de pessoas e que ainda não tem vacina. Também não há vacina para a malária. Portanto, o fato de termos conseguido várias vacinas para covid-19 em menos de um ano é extraordinário, pois não é o normal.”

Outro aspecto da relação entre ciência e sociedade que Quintanilha aborda são as fake news. Ele explica que a mentira retira das pessoas a capacidade de construir uma vida sólida e responsável, e isso é  danoso para a democracia. “A mentira tem efeitos perversos, porque a maior parte das pessoas não desenvolveu a capacidade de questionar aquilo que ouvem, de ter formas de verificar o que está sendo feito [na nação] e até mesmo a capacidade de confiar em certas instituições”, pondera. “A confiança leva décadas para ser construída, mas pode ser destruída em dois segundos.”

Já em relação ao ensino nas escolas, o deputado reforça que a curiosidade – a importante capacidade de sermos atraídos pelo que é desconhecido – é uma das coisas mais difíceis de ensinar. “Eu acredito que o sistema educativo até chega a destruir a curiosidade, não estimulam a imaginação e a capacidade de explorar o desconhecido com alguma emoção. Há uma frase muito bonita de um jornalista inglês: ‘A função principal da educação é transformar espelhos em janelas’, ou seja, transformar algo que nos reflete em algo que nos permite enxergar muito mais longe”, conclui.

Assista na íntegra! Inscreva-se no   canal UM BRASIL.

ENTREVISTADOS

CONTEÚDOS RELACIONADOS

Economia e Negócios

Brasil encontra dificuldade para gerar receita acima dos gastos 

Para Silvia Matos, do ‘Boletim Macro IBRE’, País está no negativo há mais de dez anos

ver em detalhes
Internacional

Brasil e mundo vivem uma nova era geopolítica e tecnológica 

De acordo com o cientista político Carlos Melo, a reorganização das forças globais deu origem a uma nova era “pós-Ocidente”

ver em detalhes
Economia e Negócios

Na reforma do Estado brasileiro, foco deve estar no cidadão e no controle de gastos 

Segundo Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper, e Felipe Salto, sócio da Warren Investimentos, é preciso superar o modelo federativo, que se esgotou

ver em detalhes

Quer mais embasamento nas suas discussões? Siga, compartilhe nossos cortes e participe do debate!

Acompanhe nossos posts no LinkedIn e fique por dentro
das ideias que estão moldando o debate público.