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Educação e Cultura

Modelo de raciocínio linear mina avanço educacional

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Publicado em: 1 de fevereiro de 2019

O modelo de raciocínio linear com o qual a sociedade está acostumada impede que a escola pública forme pessoas autônomas e responsáveis. O assunto foi debatido pela filósofa, psicóloga, psicanalista e especialista em políticas públicas, Viviane Mosé, e o ex-secretário municipal de Educação de São Paulo, Alexandre Schneider, na oitava aula da série UM BRASIL Sustentável. O curso de extensão foi desenvolvido em parceria com a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) e o Programa de Mestrado em Análise Ambiental Integrada, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

“Uma escola, necessariamente, tem de atender aos desafios do seu tempo. Tem de estar aberta para sua realidade, e cada época tem seus próprios desafios. Não podemos falar que escola queremos sem falar que mundo temos. A gente vive um momento de mudança na nossa cultura. A linearidade foi desfeita em uma sociedade em rede, na qual não temos mais o sucessivo, mas o simultâneo, e essa transformação gerou um abismo”, aponta Viviane.

Schneider concorda que os tempos mudaram e diz que a escola precisa trabalhar além da parte técnica – como a escrita e a matemática –, outras questões e valores com as crianças e com os jovens. “O olhar para a diversidade de toda forma (de gênero e racial) tem que estar na escola, e parece que, atualmente, queremos afastar isso como se a escola estivesse fora do mundo. Falta a discussão do coletivo, do respeito da diversidade, falta trabalhar a resiliência, ou seja, olhar para uma formação integral do indivíduo. Que ele esteja pronto para se enxergar no outro, nas diferenças e para colaborar para ter resiliência e conseguir navegar em um mundo a ser descoberto”, explica.

Para os entrevistados, a escola precisa lidar com o crescente de suicídio de crianças no Brasil e com temas polêmicos como automutilação. Eles afirmam que um modelo de formação integral vai permitir que o aluno se prepare para o mundo. “Antigamente, eu como professora era a única fonte para o meu aluno. Hoje, esse aluno tem fontes no mundo inteiro e professores melhores que eu. Não dá mais para centrar a educação no bom professor, no teórico”, critica Viviane.

Para Schneider, o currículo escolar é uma ferramenta para essa transformação. Ele deve ser flexível para ser alterado pela comunidade em que está inserido. “É importante ter um currículo, mas entender que ele tem que ser flexível o suficiente para ser alterado no chão da escola porque quem está lá sabe melhor como trabalhar com aquele público. É óbvio que pode ter um norte [como a idade prevista para alfabetização da criança], mas os processos de desenvolvimento são diferentes. As pessoas têm talentos, formas e habilidades distintas. Cada um tem seu tempo, e esse é o grande dilema da escola”, explica.

Viviane ressalta que os índices educacionais servem para mostrar que a educação está atrasada em relação a outros países, mas propostas inovadoras poderiam surgir se houvesse uma análise criativa desses dados.

“Dizer que a educação no Brasil é horrorosa é um desrespeito a quem luta para transformá-la. Temos de ter mais coragem e ousadia na hora de pensar as soluções com mais fluxo, integração, articulação. Não dá mais para produzir tanto na escola quanto em casa uma educação paternalista, passiva. A educação tem que ter uma matriz, uma referência curricular, mas precisa trabalhar uma educação em que o aluno é o protagonista, e não o professor. Ninguém fala se o aluno é atendido. A educação brasileira se caracteriza pela passividade, pela repetição, e a produção de lideranças que não se sentem fortes o suficiente para se impor.”

“Hoje, temos uma sociedade que se articula em rede, por fluxos, por multiplicidade e sobreposição, e não por sequência, mas as tentativas de transformar a educação brasileira utilizam o discurso de caixas”, complementa.

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