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Limite da liberdade de expressão é o crime e a ética

DEBATEDORES | Leandro Karnal

Conhecido por defender o politicamente correto, o historiador e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Leandro Karnal afirma em entrevista ao UM BRASIL que, no mundo onde se expressar se tornou corriqueiro por meio da internet e de aplicativos de mensagens, as pessoas precisam saber que a liberdade de opinião é válida contanto que não subjugue a lei, faça apologia ao crime ou transgrida a ética.

“O politicamente correto, que parece um pouco pejorativo, é uma convicção de que palavras ferem, de que jovens adolescentes se matam porque escutam que são feios, gordos, burros ou gays”, frisa Karnal. “Não é, portanto, algo inocente, e não se trata da minha liberdade. A minha liberdade de expressão sempre tem um limite, que é a zona do crime e da ética”, completa.

De acordo com o historiador, dispositivos tecnológicos, como smartphones, facilitaram a propagação de opiniões, e as pessoas se sentem inclinadas a se expressar nas redes sociais porque, no mundo atual, “se não publiquei ou não fotografei, não existiu”. No entanto, ele reforça que, no que diz respeito à expressão de posições e convicções sociais, deve-se respeitar a soberania da lei.

“Posso dizer o que quero, mas não posso defender o racismo, porque não é apenas uma ofensa à razão, é um crime inafiançável e imprescritível. Posso defender ideias, mas não posso fazer apologia às drogas, porque é previsto como equivocado pela lei”, exemplifica.

Karnal também chama a atenção para o potencial destrutivo da linguagem. Segundo ele, a violência praticada hoje foi uma piada aparentemente inofensiva ontem.

“Temos de ter cuidado porque toda piada contém um ataque, e esse ataque autoriza, do ponto de vista da linguagem, uma violência real. Por isso que se dizia na década de 1930 que os portões de Auschwitz foram abertos pelas piadas. É preciso haver piada antissemita para existir Auschwitz. É preciso alguém ter reproduzido uma idiotice como ‘mulher gosta de apanhar’; ‘mulher é chantili, bate que cresce’; ‘bata na sua esposa ao chegar, não precisa explicar, ela sabe por quê’ – todas essas asneiras um dia vão penetrar no cerebelo de um desequilibrado que vai bater porque se sentiu autorizado linguisticamente por uma cultura. Isso é muito perigoso”, assevera.

Para Karnal, o fato de as pessoas expressarem mais facilmente as suas opiniões não é necessariamente ruim. Contudo, avalia que falta reflexão sobre o que é dito e respeito às diferenças.

“O cuidado que se deve ter é que palavra mata, palavra fere, palavra ofende”, pontua o professor. “Acho que ao longo da vida choraremos mais vezes pelo que ouvimos do que por um soco na cara”, conclui.

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