Quando os sistemas de avaliação, como provas e vestibulares, ditam o que o aluno deve aprender, há uma inversão da lógica da educação, que deveria ter como prioridade a capacitação de cidadãos e o estímulo à aprendizagem. E é justamente este modelo inverso que é praticado no Brasil, de acordo com a CEO e cofundadora da ONG Ensina Brasil, Erica Butow.
Em entrevista ao UM BRASIL – uma realização da FecomercioSP –, realizada em parceria com a Brazilian Student Association (BRASA), associação formada por brasileiros que estudam no exterior, Erica critica a concepção de que um aluno bem-sucedido é aquele que tira nota suficiente para passar no vestibular, assim como um professor modelo é quem sabe ensinar como ser aprovado em um exame do tipo.
“O jeito que pensamos a avaliação foi invertido. Criamos a avaliação e, depois, o que o aluno deveria saber. Não tem como isso dar muito certo. Temos de ter um projeto de País, um projeto de cidadão, para, assim, determinar o que o aluno deveria saber e por que – e como vamos avaliar isso”, argumenta Erica. “No momento em que se inverte esta lógica, quando se tem um sistema de avaliação determinando o que o aluno deveria aprender, começa-se a criar todos os incentivos perversos”, complementa.
Segundo ela, a escola deve fazer o aluno entender por que ele precisa aprender, ainda que seja por motivos relacionados ao mercado de trabalho ou por puro desenvolvimento intelectual. “O estudante tem de ganhar esta consciência por meio de uma educação de qualidade, porque, sem esta visão, é muito fácil ele não estar engajado e ativo no processo de aprendizado”, explica.
A CEO da Ensina Brasil também aponta a necessidade de correções na carreira de professor. Em geral, de acordo com ela, o salário de docente corresponde, em média, a 50% do de profissionais de outros cursos superiores. Além disso, professores passam toda a carreira, praticamente, sem receber feedbacks, algo impensável em qualquer outra profissão.
Para valorizar a carreira, Erica argumenta que será preciso desmistificar o imaginário social no qual o professor é “visto como uma vítima ou, muitas vezes, um super-herói”.
“Nenhum profissional bom quer ser visto desta forma. Todos querem conseguir discutir sobre o seu desenvolvimento, sobre como melhorar, sobre como dar melhores resultados para os alunos. Então, há uma questão da própria desconstrução dessa imagem do que é ser professor e [da necessidade de] começar a tratá-lo como um profissional que vai passar, sim, por revisão dos cursos de formação e da sua trajetória de carreira”, ressalta.
Conheça os entrevistadores e os estudantes da BRASA
Na entrevista, além do jornalista Daniel Buarque, do UM BRASIL, participam os seguintes estudantes da BRASA:
Giancarlo Pereira – estudante de Física e Educação na Universidade Columbia, nos Estados Unidos.
Maria Eduardo Marszalek – estudante de Direito na Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Patrícia Hirano – estudante de Educational Leadership and Societal Change na Soka University of America, nos Estados Unidos.
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