Desencanto com ações internacionais faz países se fecharem em si mesmos
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Diante de um problema global, por que os países não agiram, juntos, a fim de encontrar uma solução para a pandemia de coronavírus? Ou mesmo por que nem todos seguiram as recomendações de organismos multilaterais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS)? De acordo com o embaixador aposentado Sérgio Duarte, ao longo dos anos, o mundo se frustrou com ações internacionais conjuntas, o que provocou um processo de ensimesmamento das nações.
Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, Duarte avalia que controvérsias em relação à segurança internacional e às políticas de preservação do meio ambiente – os principais problemas mundiais, na sua opinião – derivaram para outras pautas.
“Estas duas inseguranças, provavelmente, estão na raiz da tendência recente de países importantes, ao contrário de se refugiarem buscando segurança e colaboração nas organizações internacionais, buscarem encontrar soluções nas suas próprias capacidades. Isso, a meu ver, criou esse clima de ensimesmamento, afastando os países. Tendência claríssima disso é o America first”, explica o embaixador, citando uma das políticas centrais do governo Donald Trump, nos Estados Unidos.
Segundo Duarte, não houve, até aqui, uma ação internacional de combate à pandemia porque “alguns países, principalmente os poderosos, tenham se desencantado de soluções multilaterais para [resolver] os grandes problemas”.
Além de embaixador do Brasil na China, na Áustria e no Canadá, Duarte foi alto representante da Organização das Nações Unidas (ONU) para Assuntos de Desarmamento. Ele, contudo, desmistifica a ideia de que os países obedecem a ONU ou qualquer outra organização multilateral.
“As Nações Unidas não é soberana. Soberanos são os países que a formam. As Nações Unidas não mandam em ninguém”, frisa.
Governo Joe Biden
Na entrevista, gravada enquanto ainda não se tinha o resultado da eleição à presidência dos Estados Unidos, o embaixador indicou que caso Joe Biden vencesse o pleito, seria possível esperar mais solidariedade do futuro governo norte-americano em relação ao combate à pandemia.
“A vitória do candidato democrata, Joe Biden, talvez modifique um pouco essa tendência ao ensimesmamento, no entendimento de que também é do interesse de um país se relacionar cooperativamente com o restante da comunidade internacional”, considera o diplomata.
Apesar de Biden já ter indicado que os Estados Unidos devem voltar ao Acordo de Paris, um tratado sobre mudanças climáticas, Duarte não espera tantas mudanças na política externa norte-americana. “O que diferencia basicamente os republicanos dos democratas são as suas visões internas, não tanto as externas. Os interesses permanentes dos Estados Unidos são bastante compartilhados entre os dois partidos”, destaca.
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Crédito da foto: Mark Garten
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