“Eleitores premiam ou punem presidentes com base na sorte na América Latina”, diz Daniela Campello
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A teoria do voto econômico diz que, mesmo que o eleitor não conheça bem os políticos, sabe reconhecer a sensação de bem-estar proporcionada pelo avanço do País. No entanto, o desempenho econômico na América Latina depende, em grande parte, de fatores externos, que não são controlados pelos presidentes. É o que diz a PhD em Ciência Política Daniela Campello.
Em entrevista ao UM BRASIL, realizada em parceria com a Columbia Global Centers | Rio de Janeiro, braço da Universidade Columbia, de Nova York, Daniela diz que o cenário econômico internacional afeta a forma como o eleitor mensura a qualidade dos políticos na América Latina.
“Os eleitores respondem à economia, mas ela responde a fatores às vezes externos que não estão sob controle dos presidentes e, no entanto, são grande parte dos responsáveis pelos presidentes serem premiados ou punidos pelo eleitorado”, afirma a professora. De acordo com ela, as economias do Brasil e de outros países da América do Sul se caracterizam por serem exportadoras de commodities, diferente da dos países da América Central e do México. No entanto, toda a região latino-americana depende fortemente dos ciclos econômicos mundiais.
“A volatilidade [do ciclo de commodities] faz com que o sinal de competência dos governos seja muito fraco. Como passamos por período de boom, iniciado em 2004, e depois um período de crise, como estamos passando desde 2011, como esses movimentos são muito fortes, é muito difícil para o eleitor identificar o que é um governo competente e o que não é. Isso é diferente em economias mais estáveis”, avalia Daniela.
No Brasil especificamente, a PhD em Ciência Política diz que há dois fatores que contribuem para o desempenho econômico favorável: a alta dos preços das commodities, como durante os anos do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003 – 2010), e a entrada do capital financeiro internacional em função de taxas de juros baixas nos países desenvolvidos, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2002).
“Eleitores, em grande parte, premiam presidentes na América Latina baseado em sorte, e não em mérito. A margem que o esforço do candidato gera vitória eleitoral é muito estreita na região.” Com base em um estudo desenvolvido por ela, Daniela diz que é possível estimar quando um político tende a ser reeleito ou perder uma eleição em razão dos ciclos econômicos que afetam o desempenho das economias latino-americanas.
“A dúvida é se as pessoas racionalmente percebem que a economia está melhor e, por isso, votam no governo ou se simplesmente é a uma sensação de bem-estar. Há muitos trabalhos na literatura americana que mostram que o bem-estar causado por coisas que não tem nada a ver com o governo gera apoio ao governo”, diz Daniela.
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