Eleições estaduais são reféns da disputa nacional
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Com menor exposição na mídia, as eleições estaduais ficam encobertas pelas disputas pela Presidência da República e por vagas no Congresso Nacional, que geram inconvenientes aos candidatos a governador em função de alianças divergentes das formadas no âmbito federal. Isso seria diferente caso os pleitos estaduais e nacional fossem realizados separadamente. É o que diz o doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Cláudio Couto.
De acordo com o cientista político, a realização das eleições estaduais concomitantemente à nacional inibe as disputas nos Estados. “Do ponto de vista político, o Brasil é mesmo uma federação. Ou seja, os Estados têm uma dinâmica política própria, têm lideranças locais, há uma disputa política que ocorre em nível estadual”, afirma Couto, em entrevista ao UM BRASIL realizada em parceria com o InfoMoney.
“Não dá para imaginar que, consequentemente, os partidos que têm uma certa teia de aliados e um grupo de adversários em um Estado esquecerão disso tudo na hora da eleição nacional. Não vão, ainda mais porque temos esse conflito de a eleição nacional acontecer ao mesmo tempo da estadual”, completa.
Desse modo, Couto diz que candidatos a governador tendem a ter uma postura mais retraída durante a campanha em função das alianças firmadas pelos partidos na disputa nacional. “A eleição federal amarra um pouco as eleições estaduais, não necessariamente do ponto de vista de vincular uma à outra automaticamente, mas quanto a criar certos constrangimentos, de levar certos candidatos a preferir o silêncio, de fingir que não é com eles a outra disputa”, reitera.
Na entrevista, conduzida por Humberto Dantas e Marcos Mortari, o cientista político também comenta que a composição de coalizões é parte do jogo democrático, sobretudo na política brasileira, cujo Poder Legislativo é constituído por diversos partidos.
Com isso, ressalta que o candidato eleito para um cargo no Executivo deve reconhecer a legitimidade dos parlamentares e saber que negociar, e não impor, faz parte da democracia.
“Qualquer presidente que vier a governar não terá maioria automática no Congresso. Acontece que esse Congresso vai ter sido eleito pela população e terá legitimidade democrática. Portanto, se o presidente quiser aprovar as coisas no Congresso, vai ter que conversar com a maioria que foi eleita pelo povo tanto quanto ele”, ressalta. “É uma solução sem saída: ou você negocia ou você não respeita a democracia”, salienta.
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