Autonomia regional tornaria megacidades sustentáveis
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A descentralização do poder é o que tornará sustentáveis megacidades como Tóquio e São Paulo, com 38 e 20 milhões de habitantes, respectivamente. O tema, considerado um dos grandes desafios do século 21, foi debatido na sexta aula do curso de extensão “UM BRASIL sustentável: visões, desafios e direções”, que contou com o empresário e empreendedor social, Oded Grajew, e o arquiteto urbanista e professor do Instituto das Cidades da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Anderson Kazuo Nakano.
“Cidades com aglomerações urbanas dessa magnitude são algo inédito na história da humanidade. A questão do tamanho não é bloqueio para cidades melhores, mais justas e sustentáveis no futuro. O problema está na dificuldade de construir um processo de governança democrática para essas megacidades”, diz Nakano, no encontro mediado pelo professor do curso de Ciências Ambientais da UNIFESP, Dr. Zysman Neiman. O curso foi desenvolvido pelo canal em parceria com a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) e o Programa de Mestrado em Análise Ambiental Integrada, também da UNIFESP.
Grajew aponta São Paulo como modelo de uma gestão totalmente centralizada, já que as 32 subprefeituras têm pouca autonomia, e cita desigualdades encontradas na capital. Ele dá como exemplo a diferença na expectativa de vida constatada entre os moradores do bairro de Cidade Tiradentes, na zona leste, que vivem 57 anos, em média, e os habitantes do bairro de Pinheiros, na zona oeste, que atingem os 79 anos. “Cidade sustentável oferece qualidade de vida boa para todos os habitantes e não só sobre alguns, e isso demanda diminuir drasticamente a desigualdade e oferecer para as próximas gerações condições melhores”, completa.
Para ambos os especialistas, essa transformação passa pela esfera política e pelo fim de privilégios, ações que resultarão da união e pressão da sociedade sobre os governantes. “A desigualdade foi construída com políticas públicas, e é preciso redirecionar o orçamento para os locais mais necessitados. Tem de confrontar interesses de quem ajudou a construir a cidade do jeito que ela está. Essa é uma tarefa da sociedade no momento em que ela chegar a um consenso de que essa desigualdade é inconcebível e faz mal a todos. Com esse grau de desigualdade no Brasil, qualquer projeto de país melhor é fantasia”, alerta Grajew.
Nakano acredita ser preciso trabalhar de forma diferente o projeto de cidade mais equitativo para que haja o engajamento de toda a sociedade. “A gente sempre se preocupou em trabalhar nesse projeto de cidade mais justa no plano racional, das consciências, do conhecimento, da formação das pessoas nos sistemas educativo ou político, mas, atualmente, está claro que isso não é suficiente. Para o envolvimento das pessoas no processo, temos que trabalhar no plano subjetivo que coloque a sociedade em ação, em movimento, para que se possa ter uma transformação coletiva dessa realidade”, destaca.
O arquiteto urbanista percebe que aspectos subjetivos são tratados nos movimentos negro, feminista, de jovens e LGBTQ, por exemplo. Eles politizam assuntos que até então tinham pouco espaço. “Esses grupos recolocam em outras perspectivas o que são direitos, mais especificamente o que é direito à cidade. Eles trazem outras dimensões da vida política que estavam despotencializadas.”
O uso de indicadores é outra ferramenta crucial para planejarmos cidades sustentáveis, e uma visão diferente da usada na atualidade pode refletir em políticas eficientes. “Os latinos, de forma geral, usam os indicadores como mecanismo de avaliação, enquanto que o mundo anglo-saxão estabelece metas e objetivos quantitativos concretos no futuro”, acrescenta Nakano.
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