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Formação escolar negligencia educação cívica do aluno

DEBATEDORES | Felipe Neves Maria Paula Dallari Bucci

Não há dúvida de que o interesse dos jovens pela política tem crescido constantemente. Contudo, ainda lhes falta um tipo de educação que providencie conhecimento sobre o funcionamento do sistema político e, em especial, da Constituição.

Fora dos currículos escolares na atualidade, a educação cívica e sua possível capacidade de preencher essa lacuna de ensino foi tema de debate do UM BRASIL com o fundador e presidente do Projeto Constituição na Escola, Felipe Neves, e a professora da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) Maria Paula Dallari Bucci.

Em andamento há cinco anos, o Projeto Constituição na Escola promove aulas e palestras sobre a Carta Magna brasileira, direitos humanos e civilidade para alunos de instituições públicas. Com base em sua experiência, Neves ressalta a importância de tratar do assunto com estudantes: “O que vemos é que falta estruturar um pouco o conhecimento do jovem, dando-lhe informação para que possa ver onde estão seus direitos e deveres”, comenta. “Essa é uma matéria que não é ensinada nas escolas, é pouco falada no dia a dia, no cotidiano dos alunos, principalmente em escolas públicas. Então, é algo que eles não conversam, não aprendem e não leem”, complementa.

Maria Paula, por sua vez, ressalta que, além de faltar conhecimento formal sobre política na formação escolar do jovem, o interesse pelo assunto, embora em alta, não o leva a participar dos meios tradicionais de representação.

“O fato de os jovens terem interesse pela política pode não ser do jeito mais formal, talvez não conheçam detalhes da Constituição, mas acho que há um engajamento, e as redes sociais – para o bem e para o mal – participam desse processo. O jovem fala mais, não sei se qualificadamente, mas tem um acompanhamento dessa matéria”, avalia a professora. “Participar no Facebook pode ser um canal, mas ter uma participação organizada em associações, partidos e organizações é igualmente importante”, reitera.

Escola sem Partido
Na busca por encontrar um sistema de ensino que amplie o conhecimento político do jovem em idade escolar, a proposta que institui o Programa Escola sem Partido, que estabelece uma série de regras de conduta para o professor em sala de aula, é vista com cautela pelos debatedores.

De acordo com Neves, é papel da escola expor ao aluno as tensões da atualidade para que ele possa entender o que está acontecendo na sociedade em que vive, contanto que seja evitado discurso político ou ideológico.

“O que eu acho muito importante, independentemente de ter Escola sem Partido ou não, é o professor na sala de aula poder passar os dois lados da moeda em toda a situação. Uma coisa é você falar que o professor pode viciar a cabeça do aluno porque ele vai pregar um discurso ideológico e partidário todo dia em sala de aula, e isso pode fazer com que o estudante, por ser jovem, desenvolva um pensamento viciado. Mas, de outra forma, se você nunca falar sobre os problemas da nossa sociedade, sejam eles políticos, sejam eles do dia a dia (como direitos e deveres), você não vai conseguir resolver ou construir uma cabeça pensante, uma cabeça apta a enxergar um problema, interpretar e ver o que ele acha que está certo ou errado”, frisa.

Maria Paula corrobora que o professor tem que mostrar que há tensões no mundo e afirma que não é um projeto que vai resolver o problema da educação no Brasil.

“Política de educação, para dar certo, precisa de um investimento de décadas. Educação não tem bala de prata, não vai chegar alguém e tirar da cartola uma solução mágica que vai resolver em seis meses ou um ano. A educação que deu certo no mundo inteiro dependeu de continuidade, das políticas que continuam”, salienta.

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