Em termos de educação, o Brasil precisa oferecer um leque de opções para os jovens que chegam ao ensino médio, bem como caminhos que tenham a ver com suas condições, interesses, motivações e oportunidades. Contudo, o País tem insistido no caminho inverso, deixando de lado a importância da profissionalização, de modo que a parcela de estudantes que não conclui o ensino básico fique desamparada, pondera Simon Schwartzman, sociólogo, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, Schwartzman fala sobre seu mais recente livro Falso mineiro: memórias da política, ciência, educação e sociedade, pela Editora Intrínseca; analisa temas como a reforma dos ensinos médio e superior no Brasil, além das falhas na qualificação da mão de obra; e comenta o papel da ciência num contexto político no qual conhecimentos estabelecidos são questionados constantemente – em razão de ideologias que ultrapassam meros valores pessoais.
“Atualmente, os estudantes que chegam ao ensino médio são muito diversos, de forma que não faz sentido ter um caminho único para todos. Contudo, no Brasil, o antigo ensino técnico ou profissional ficou abandonado, e criou-se uma situação em que todos têm de passar pelo mesmo currículo clássico dos anos 1940 para ir à universidade. Na realidade, apenas uma fração dos que terminam o ensino médio vai para o ensino superior; mas e os outros, o que é feito com eles?”, questiona. “Entretanto, ainda que trôpega, a discussão quanto ao ensino médio foi colocada; para o superior, nem começou.”
Quanto a isso, Schwartzman comenta que a legislação brasileira não soube acompanhar os avanços que ocorreram no mundo com vistas a um ambiente que trabalhe com possibilidades mais flexíveis e que se moldem aos anseios profissionais dos estudantes. “O povo ainda pensa muito no modelo da universidade francesa, em que se vai à faculdade para aprender uma profissão. Um norte-americano, por exemplo, vai para fazer uma matéria principal, uma secundária e, depois, uma especialização”, enfatiza.
De forma geral, ele pontua, há um grave problema no sistema de ensino que fez com que tenha crescido muito, com altos custos, mas sem que gerasse resultados mais profundos, como mão de obra qualificada e produção científica de peso.
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Foto: arquivo pessoal