Brasil encontra dificuldade para gerar receita acima dos gastos
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- Para Silvia Matos, professora na FGV e coordenadora do Boletim Macro IBRE, o Brasil enfrenta, há mais de dez anos, dificuldades para gerar receita acima dos gastos.
- Na opinião da coordenadora, o País vive um atraso educacional — tanto no acesso, quanto na qualidade do ensino — que atrapalha o crescimento da produtividade.
- Com o aumento das tarifas e uma possível movimentação protecionista em todo o mundo, a China terá de aumentar o consumo interno para que a Indústria siga produzindo, avalia Silvia.
As dificuldades do governo para controlar as contas públicas e a inflação põem em xeque a situação macroeconômica nacional.
A edição de outubro de 2024 do Boletim Macro IBRE alertou para a necessidade de um freio nas despesas públicas, principalmente com a piora do quadro fiscal. No início deste ano, a publicação indicou que desacelerar a inflação e adotar práticas fiscais sustentáveis seriam os grandes desafios de 2025.
Mas todo esse cenário não é novo. O Brasil tem, já há muito tempo, obtido resultados negativos na política fiscal, adverte Silvia Matos, professora na Fundação Getulio Vargas (FGV) e coordenadora do Boletim.
“Se há uma crise, você gasta mais e a arrecadação cai, isso faz parte da vida. Mas ao excluir fatores temporários e olhar aquilo que é mais permanente — tanto em termos de gastos quanto de receitas —, nós estamos no negativo há mais de dez anos”, avalia.
Ela ainda destaca que esses resultados indicam um problema estrutural, com origens mais profundas. “Uma incapacidade de gerar receita acima dos gastos. Isso é fato”, explica.
Em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, Silvia comenta os desafios macroeconômicos do País e a guerra comercial entre China e Estados Unidos.
Educação é empecilho à produtividade
- Atraso educacional. Em comparação com outros países, o Brasil está bem atrás quanto ao número de jovens adultos — de 25 a 34 anos — com o ensino superior completo. “Essa proporção, no total, é só de 20% a 21%. É muito pouco”, alerta Silvia.
- Produtividade estagnada. Segundo Silvia, essa mesma taxa na Coreia do Sul é de 70%. Na Argentina, 40%. Isto é, o País vive um atraso educacional — tanto no acesso, quanto na qualidade do ensino — que atrapalha o crescimento da produtividade nacional, explica.
- Ficamos para trás. “Éramos mais ricos que a Coreia no início dos anos 1980. Nosso PIB per capita era 35% do estadunidense — o da Coreia era uns 25%. Hoje, somos 25% dos Estados Unidos, enquanto a Coreia é 70%”, explica.
Consequências da guerra tarifária
- Limite insustentável. Há semanas, a China ocupa um lugar de destaque nos noticiários. Após a guerra tarifária contra os Estados Unidos escalar até um limite considerado insustentável, alcançando as mais altas taxas mútuas de importação na história, agora, ambos finalmente caminham para um possível acordo de redução das tarifas.
- Recuo. As taxas sobre itens chineses, que chegaram a 145% no início de abril, paralisaram parte do comércio entre os países. Agora, Trump anuncia um recuo: por três meses, os chineses serão taxados em 30%, enquanto os asiáticos vão praticar uma tarifa de 10% sobre as importações norte-americanas.
- Política tarifária não é nova. Estudos mostram que o aumento das tarifas de importação sobre os produtos chineses, no primeiro mandato de Trump, foi negativo para a Indústria estadunidense, adverte Silvia. “Parte da Indústria de lá sofreu consequências em termos de aumento de custos de insumos produtivos”, ressalta. “E o governo Biden continuou com a mesma política”, completa.
- A China terá de reagir. Com o aumento dessas tarifas e uma possível movimentação protecionista em todo o mundo, a China precisará aumentar o consumo interno para que a Indústria siga produzindo, avalia a coordenadora. “Vimos, no ano passado, os carros elétricos chineses invadindo a economia brasileira. Ninguém vai ficar parado. Haverá um aumento de protecionismo no mundo como um todo”, avalia.
- Mercado interno em xeque. Silvia acredita que a Indústria chinesa deve se preparar para lidar com tudo isso. O aumento das tarifas vai gerar um excesso de oferta. E o governo vai tentar ajudar esse setor para continuar produzindo. “A China já é um país que tem uma renda per capita mais elevada e, ao mesmo tempo, um consumo baixo. A minha prescrição para o país seria: ‘Vamos consumir mais’”, completa.
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