“Brasil deve retomar o caminho das reformas”, diz Edmund Amann
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Com a promulgação da Constituição de 1988, o Brasil deu início a um processo de reformas que levou ao que pode ser chamado de modelo brasileiro de desenvolvimento, cuja política central era a redução da pobreza no País. É o que diz o economista e professor de Estudos Brasileiros da Universidade de Leiden, Edmund Amann.
Em entrevista ao UM BRASIL, em parceria com a Columbia Global Centers | Rio de Janeiro, braço da Universidade de Columbia, localizada em Nova York, Amann diz que o modelo brasileiro de desenvolvimento não foi pré-concebido, mas tomou forma ao longo das décadas de 1980 e 1990. Esse modelo consiste em estabilidade macroeconômica, políticas de redistribuição de renda e exportação de commodities agrícolas, setor em que o País é competitivo no mercado internacional. Segundo o economista, o combate à inflação nos anos 1990 foi a política crucial para a redução da pobreza.
“Isso é um ponto que não é bem conhecido fora do Brasil. Para o estrangeiro, é mais questão do Bolsa Família, mas, na realidade, o motivo-chave para a queda da pobreza, sobretudo durante os anos 1990 e o início do milênio, foi a estabilização macroeconômica. Depois, com certeza, chegaram o Bolsa Família e outras políticas sociais importantes. Sem a queda da inflação e a estabilização macroeconômica nada disso teria sido possível”, afirma Amann.
Para o economista, o modelo brasileiro não se esgotou, mas a crise atual mostra que o País precisa fazer reformas na economia, no setor financeiro e na política para seguir crescendo. “Muitas dessas reformas eram totalmente necessárias, mas nunca foram feitas por obstáculo políticos. Há dificuldades para realizar essas reformas, muito tempo, investimento, tecnologia. Sem as condições adequadas não é possível ter progresso”, diz Amann.
“O Brasil deve retomar o caminho das reformas, isso é fundamental. Eu creio pessoalmente que o País pode fazer isso, mas é preciso vontade política, que é absolutamente chave”, completa. De acordo com o professor da Universidade de Leiden, além da crise econômica, o Brasil passa atualmente por discussões sobre as políticas sociais, de modo que o debate enfrenta o problema sobre como conciliar as ações do Estado com os gastos públicos disponíveis.
“É preciso a busca pelo consenso na área de política social. Tem uma ausência nesse consenso atualmente e também há muita pressão fiscal. Em um sentido geral, acho que há vontade para avançar nas reformas sociais. Não tem oposição fundamental ou filosófica, mas o problema é a ausência do espaço fiscal”, avalia Amann.
A entrevista integra a série que discute estratégias para o crescimento e o papel do Estado na economia, gravada em São Paulo e no Rio de Janeiro, em dezembro de 2016.
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