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Ciência e Saúde

Além do preconceito de gênero, mulheres negras têm trabalho em dobro para comprovar capacidade na ciência e na tecnologia

Publicado em: 28 de abril de 2023

ENTREVISTADOS

MEDIAÇÃO

Renato Galeno

Durante muito tempo, foi difundido na sociedade que o cérebro da mulher não era biologicamente capaz de lidar com temas complexos — como os relacionados às ciências exatas —, tampouco de liderar uma nação e todas as áreas inerentes ao interesse coletivo, como Economia, Tecnologia, Segurança e Saúde. No Brasil, em especial, essa barreira historicamente sempre foi imposta desde cedo às meninas. A reflexão é de Sonia Guimarães, doutora em Física e professora no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), uma das mais prestigiadas instituições de ensino brasileiras. Sonia é a primeira mulher negra do País a se tornar doutora em Física.

“Até 1996, mulheres eram impedidas até mesmo de prestar vestibular para o ITA. Hoje, as melhores notas do vestibular são de mulheres. A melhor nota dentre quem se formou em 2022 foi de uma mulher, com 9,5 em todas as engenharias. A luz no fim do túnel para elas está em parar de acreditar na história de que são menos capazes. As campeãs das Olimpíadas de Física e Matemática são meninas; os países que menos tiveram mortes por covid-19 têm presidência feminina ou uma mulher como ministra da Saúde. Elas não são menos capazes, só estão chegando ao poder aos poucos”, argumenta. Desde o início da década de 1990, Sonia já lecionava no ITA, a única mulher negra dentre as pouquíssimas no campus, tendo em vista que, na época, elas não podiam ingressar como estudantes.

No bate-papo, a cientista ressalta que a melhor forma de atrair o público feminino desde cedo para carreiras que envolvam ciências exatas e tecnologia é mostrando os exemplos de mulheres que não apenas não acreditaram na falácia da incapacidade, como também estão chegando aos mais altos cargos e posições, representeando, inclusive, 70% das publicações científicas do País.

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Espaço para mulheres negras nas ciências exatas

Sonia reforça ainda que a melhor estratégia às mulheres negras para alcançar o topo das carreiras em ciências exatas e tecnologia é não desistir jamais. “O único resultado da desistência é nenhum. Desistindo, você não consegue nada e acaba com o seu sonho. Precisa mostrar que é capaz e que pode ser a melhor”, pondera a cientista. “No ensino fundamental, me disseram que eu nunca aprenderia Física. Eu terminei aquele ano como a segunda do colégio inteiro na disciplina. Na universidade, a história foi parecida. Infelizmente, é um fato em todas as áreas que, pela cor da pele, você tem de ‘matar dois leões por dia’ — e juntando com o fato do gênero, são ‘quatro leões por dia’”, reflete. 

Reforma do ensino médio 

Sonia considera que é muito cedo exigir que um adolescente que acabou de ingressar no ensino médio escolha uma função e defina o resto de sua vida naquele momento. O ideal, segundo ela, seria apresentar as oportunidades existentes no mundo e, mais adiante, pedir para que escolha seus interesses, mas sem fechar portas. Posteriormente, na última etapa da formação escolar, o estudante tomaria uma decisão. “[O ensino médio] tinha de ter uma matéria de carreiras. Isso não existe, nem na faculdade. Algumas escolas têm o teste vocacional, mas o estudante não é apresentado a todas as possibilidades existentes.”

A entrevista faz parte da série UM BRASIL e BRASA EuroLeads 2023, realizada em parceria com a  Revista Problemas Brasileiros (PB). Confira também as entrevistas produzidas na primeira edição da série, gravadas em 2021, e os episódios exclusivos em podcast na PB:  https://umbrasil.com/parceiros/brasa-euroleads/.

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