Mundo precisa que Estados Unidos e China dialoguem em torno de interesses em comum
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A percepção de que a China representa uma ameaça à soberania dos Estados Unidos (EUA) é um dos poucos pontos em que a opinião política da população estadunidense realmente converge. A perturbação que a ascensão de uma potência desafiante causa em uma já estabelecida pode ocasionar conflitos de proporções política, comercial e de segurança — de modo que, para essas duas nações, o ideal é que se estabeleça um sistema regular de diálogo em que se encontre uma agenda de interesses mútuos sobre os quais ambas possam trabalhar, defende Paulo Portas, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, em entrevista para a série Conexão Brasil–Portugal.
“A China será a prioridade de qualquer presidente norte-americano, seja democrata, seja republicano. Essa revisão estratégica começa nos mandatos Obama e avança durante os anos de Trump de uma forma caótica — como tudo em seu mandato —, com uma ‘lista negra’ de empresas chinesas. Biden triplicou a lista de Trump. A única diferença essencial entre esses dois é que Biden não fala de outras nações nas redes sociais. O pensamento estadunidense sobre a China é unilateral e consensual na percepção da ameaça”, assegura.
Em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, Portas pondera que o maior risco que o mundo corre não é exatamente um confronto entre as duas potências, mas um erro de percepção das intenções de uma sobre a outra, o que poderia desencadear um conflito. “Se os chineses estiverem convencidos de que o declínio dos EUA é irreversível, em um mundo dolarizado, isso pode ser uma precipitação e um erro. Já os populistas [dos EUA] também precisam ouvir que, das 500 melhores empresas de lá, 40% foram criadas por imigrantes ou seus filhos”, avalia.
Taiwan no centro do embate
Paulo Portas lembra que o mar do Sul da China é uma das regiões mais perigosas para fomento de um conflito, em particular por causa de uma possível declaração de independência de Taiwan, ilha que a China considera uma província separatista e que deve, mais cedo ou mais tarde, voltar ao seu controle. Taiwan, por outro lado, se vê como um país independente. O questionamento que fica é qual seria a atitude dos EUA diante de uma conflagração que cerca o que é, hoje, um dos epicentros comerciais e de desenvolvimento do mundo — sobretudo na produção de semicondutores —, com elevada relevância para a economia internacional.
“Eu acredito que o tema seja gerível. Nós sabemos quais são os dois pontos de tensão. Os chineses dizem que, se houver declaração de independência, não existirá alternativa que não a invasão de Taiwan; os norte-americanos dizem que, se os chineses invadirem Taiwan, estarão obrigados a pôr em prática o tratado de defesa que existe há décadas, de maneira ainda mais significativa do que tem feito com a Ucrânia, ou seja, enviar soldados para defender aquele território. O diálogo é inevitável, e o mundo precisa absolutamente que ele ocorra”, reforça.
Nesse cenário, o ponto de equilíbrio que Porta sugere é que, como a declaração de independência é inaceitável pela China, não é o primeiro item na lista de importâncias de Taiwan, mas simboliza um fato determinante para desencadear uma defesa norte-americana, então, é melhor que a declaração não ocorra. “Esse é o ponto que é gerível. Mas isso implica que China e EUA se percebam”, conclui.
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