Covid-19 e o meio ambiente, por José Goldemberg e Cristiane Cortez
*Por José Goldemberg e Cristiane Cortez
Um dos aspectos da tragédia que se abate sobre a humanidade, neste ano de 2020, é a notável redução no consumo de derivados de petróleo, o que levou os grandes produtores a reduzir drasticamente o seu preço. Há seis meses, cada barril de petróleo custava cerca de US$ 80 e, hoje, caiu por um fator 4 para aproximadamente US$ 20 por barril.
Como consequência, os grandes produtores de petróleo abandonaram os planos de expandir a produção para economizar recursos e concentrar a produção apenas nos poços mais produtivos. A Petrobras adotou a mesma estratégia, decidindo desativar dezenas de plataformas de exploração e produção e se concentrar nos poços na região de Búzios, que são mais atraentes.
Os benefícios dessa estratégia para o meio ambiente são óbvios: menos petróleo, menos poluição nas grandes cidades e menos emissão de gases responsáveis pelo aquecimento global. Estima-se que a queda no consumo de petróleo e derivados vai durar vários anos e só eventualmente será recuperada. Esta é uma grande oportunidade para as energias renováveis ocuparem o espaço deixado pela queda no consumo de petróleo.
O que diferencia a produção de energia renovável da produção de energia como se fazia no passado, é que ela não exige grandes investimentos. Construir usinas hidroelétricas, reatores nucleares, refinarias ou usinas térmicas para geração de eletricidade exige grandes capitais, e elas levam anos para serem concluídas. A produção de energias renováveis (eólica, solar e biomassa) é feita, em geral, em pequenas unidades que não exigem grandes investimentos e são instaladas rapidamente.
No lugar de grandes investimentos, em geral do governo ou do Banco Mundial, o setor privado pode fazer isso por meio de um número grande de pequenos projetos – excelente oportunidade para que empresas instalem energia fotovoltaica, em seus telhados ou estacionamentos, por exemplo.
Além disso, a introdução de processos para usar energia de forma mais eficiente exige investimentos menores do que produzir mais energia. Rever processos produtivos, aproveitar mais iluminação e ventilação naturais e instalar sensores de presença são algumas medidas que podem ser facilmente implementadas, e com baixo investimento. Além disso, a economia na conta de consumo de eletricidade faz o tempo de retorno ser pequeno.
A adoção dessas estratégias de desenvolvimento imposta pela crise de covid-19 abre caminho para um futuro mais sustentável e menos poluente.
*José Goldemberg é presidente do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Cristiane Cortez é assessora técnica do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP.
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