UM BRASIL UM BRASIL MENU conheça o um brasil
Voltar
ANTERIOR PRÓXIMO
 
Economia e Negócios

Não há contradição entre economia e proteção a vidas humanas

Publicado em: 8 de maio de 2020

ENTREVISTADOS

MEDIAÇÃO

André Rocha

Políticas negacionistas do potencial devastador do novo coronavírus podem ter consequências “incalculáveis” em termos de perdas humanas. Por isso, a pressão vista “em todos os lugares do mundo” para a retomada da atividade econômica sem um plano que providencie testes para a população revela que “lucidez virou bem escasso”, de acordo com o professor, economista e sociólogo Marcelo Paixão,  que também é presidente da Brazilian Studies Association (BRASA).

Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, Paixão critica o clamor de parcela da sociedade brasileira que defende a reabertura das atividades produtivas em meio ao surto do vírus e diz que seria uma política inócua de retomada econômica.

“Se o Brasil voltar a funcionar amanhã, não vai mudar a realidade da economia, porque vai ter que importar produtos de países que hoje estão fechados e vai tentar exportar produtos para países que não estão comprando porque estão fechados”, explica o professor associado da Universidade do Texas, em Austin. “Então, são determinadas questões que exigem, acima de tudo, lucidez”, complementa.

Nesse sentido, ele critica a dicotomia que se instalou entre economia e saúde resultante da política de isolamento social, que interrompeu a operação de diversos setores produtivos. “Estamos em uma situação que exige atitudes imediatas para proteger a vida das pessoas”, pontua. “Não há como pensarmos em economia sem seres humanos”, acrescenta.

Classificando a atualidade da política brasileira de “um festival de insanidade”, o professor destaca que o negacionismo ao coronavírus deve trazer danos intergeracionais ao País – impactos que não podem ser calculados agora, mas que serão sentidos no futuro.

“O que está faltando é aquilo que no mundo de hoje é o ativo mais precioso e que, infelizmente, estamos jogando pela janela ou na lata do lixo que se chama inteligência. Se a própria adoção de decisões racionais se torna um pecado, o que já era difícil – e seria difícil em qualquer contexto –, plus [mais] uma política demófoba como essa, realmente temos motivos para ficarmos extremamente preocupados com o que se coloca”, alega.

Consensos em xeque

De acordo com Paixão, o Brasil vive uma “escalada autoritária” que se percebe quando uma camada da sociedade “possui uma enorme capacidade de normalizar situações e realidades que qualquer pessoa com um pingo de lucidez vai dizer que são inaceitáveis e descabidas”.

O professor destaca que valores que eram supostamente consensuais, como a busca por uma melhor distribuição de renda, estão sendo postos em xeque. “Temos uma experiência histórica do País demonstrando que o modelo de desenvolvimento baseado na concentração de renda nos leva a determinados colapsos estruturais que são de difícil resolução”, alerta.

Por fim, ele argumenta que as elites econômicas têm um papel a cumprir com o desenvolvimento do País e com a manutenção da democracia. “Independentemente de um Brasil idealizado ou real, existe uma agenda a ser perseguida que, talvez, se tivermos condições de ter um pouco mais de frieza e lucidez, vamos ver que determinados assuntos não são tão controversos assim”, salienta.

ENTREVISTADOS

CONTEÚDOS RELACIONADOS

Sociedade

A crise climática virou um problema da comunicação 

Em evento realizado na Casa Balaio, em Belém, especialistas falam sobre como usar narrativas de impacto para engajar a sociedade

ver em detalhes
Economia e Negócios

Estratégias empresariais para um futuro sustentável no Brasil 

Em evento realizado na Casa Balaio, em Belém, especialistas debatem soluções para os grandes desafios climáticos do País

ver em detalhes
Economia e Negócios

O problema do Brasil é que a produtividade não acompanha o crescimento

Economista-chefe da Galápagos Capital, Tatiana Pinheiro, discute o impasse fiscal e as origens da inflação no País

ver em detalhes

Quer mais embasamento nas suas discussões? Siga, compartilhe nossos cortes e participe do debate!

Acompanhe nossos posts no LinkedIn e fique por dentro
das ideias que estão moldando o debate público.