Não existe racismo fora de uma relação de poder
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“Não existe racismo que não seja estrutural. Ele é um mecanismo muito complexo que cria, de um lado, vulnerabilidade, e, de outro, poder. Não existe racismo fora de uma relação de poder. Ele depende de estruturas sociais para que a discriminação continue sendo sistêmica”, analisa o jurista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Silvio Luiz de Almeida, em entrevista ao UM BRASIL.
Ele enfatiza que o racismo não se isola em um ato de violência, mas cria um sistema em que alguns são beneficiados, e outros, prejudicados socialmente.
Almeida caracteriza essa estrutura como sendo constituída de Estado, ideologia, Direito e economia. “É preciso ter mecanismos estatais funcionando, mecanismos ideológicos, para reproduzir esse imaginário social sobre o comportamento de pessoas de grupos racializados. É preciso ter mecanismos jurídicos que irão estabelecer o limite do comportamento das pessoas que pertencem a determinados grupos, e é preciso também mecanismos e estruturas econômicas.” Ele enfatiza que essas estruturas, funcionando de maneira afinada, permitem que haja o racismo sistêmico.
Na entrevista, o professor explica o sistema de vantagens e desvantagens sociais ao lembrar que as pessoas que ocupam cargos públicos, com maior remuneração, em sua maioria, são brancas. “Se todo mundo é igual, se todo mundo convive bem e não há nenhuma barreira para os negros, como explicar que só os brancos estão em posição de poder e destaque? Que só há brancos ali? A única forma de se criar esse discurso, e conseguir lidar com a tensão, é [pela] meritocracia, ou seja, [dizer que] a pessoa chegou lá porque teve mais mérito”, critica.
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