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Ciência e Saúde

Testagem rápida do covid-19 não basta para se evitar aumento de casos

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Publicado em: 3 de julho de 2020

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A capacidade de testagem para o covid-19 é o maior problema conjuntural do momento. Os testes rápidos, que foram comprados da China no início do avanço da pandemia pelo Ministério da Saúde, servem apenas para que se saiba quem teve a doença. No entanto, a ação mais importante de saúde pública, agora, é para quem ainda será infectado, afirma o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP.

“O RT-PCR é um teste que identifica se a pessoa tem o vírus na orofaringe e se poderá desenvolver a doença. Se essa pessoa testar positivo, terá que ser isolada e ao menos cinco contatantes próximos a ela deverão ser testados, e certamente mais dois testarão positivo também; desses dois, temos que testar mais cinco contatantes de cada um”, enfatiza.

“Com isso, eu descubro uma quantidade de pessoas que poderiam estar contaminando e que são assintomáticas (terão a doença sem sintomas) ou pressintomáticas. É fundamental descobrir esses contatantes para isolá-los. Isso é testar, não adianta fazer o teste rápido da farmácia. Do ponto de vista da saúde pública, quero saber quem terá a doença”, pontua Vecina Neto.

Outro problema conjuntural, que ficou ainda mais evidenciado durante essa crise profunda, é o nível de desigualdade social, ressalta Vecina. “Essa distância entre as pessoas muito pobres e as muito ricas, só o Brasil tem. A periferia não tem comida, nem acesso contínuo à água tratada. Quem vai à periferia questiona o porquê de tanta gente na rua. Mas não é que o povo goste de estar na rua [neste momento], essas pessoas têm que sair de manhã para poder comer à noite”, diz.

Ele defende que a distribuição de recursos emergenciais precisa ser feita de forma mais inteligente pelo governo, de modo que os alimentos cheguem a essas pessoas, sobretudo às famílias cujas crianças só conseguiam se alimentar na escola.

Ele pontua que o Brasil está correndo o risco de ter, proporcionalmente, muitos mais casos do que os norte-americanos. “Já estamos chegando perto das proporções de casos dos italianos e dos espanhóis. Eles tiveram um relaxamento do isolamento social fora da hora. Lá, isso custou vidas. Aqui, esse relaxamento também vai custar vidas”, afirma.

SUS é decisão da sociedade brasileira

Na entrevista, Vecina também avalia a cobertura universal pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para que o País possa lidar com situações de crises como a atual. Ele destaca que a universalidade, da forma como está hoje, é “manca” e tem problemas, mas que, ainda assim, 95% dos transplantes feitos no País são pelo SUS, assim como 95% das hemodiálises, bem como a distribuição massiva de medicamentos de alto custo para doenças como câncer, HIV, etc.

“O SUS resolveu tratar os pacientes portadores do vírus da aids entregando medicamentos de graça a eles, no mesmo ano em que a África do Sul decidiu que lá não [seria assim]. Hoje, aquele país tem 15% da população contaminada pelo HIV. Nós temos muito menos, por causa do SUS, de políticas públicas e por decisão da sociedade brasileira”, pondera.

Diálogo é caminho e solução para a complexidade dos problemas brasileiros

“Sem diálogo, não há como resolver problemas complexos. É preciso negociar, ceder, aceitar dividir. Mas estamos falando atualmente de gabinete de ódio, de negação, de fake news, de se usar remédio com efeito mágico, passando por cima do conhecimento científico, como se isso fosse algo natural. É inacreditável”, pontua o médico sanitarista.

Vecina Neto atualmente é professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP). Já atuou como presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como secretário municipal de Saúde de São Paulo e como superintendente corporativo do Hospital Sírio-Libanês.

Assista na íntegra! Inscreva-se no canal   UM BRASIL.

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