UM BRASIL UM BRASIL MENU conheça o um brasil
Voltar
ANTERIOR PRÓXIMO
 
Ciência e Saúde

Sem vacina, covid-19 precisa ser entendida como problema de longo prazo

  • COMPARTILHAR
Publicado em: 22 de maio de 2020

MEDIAÇÃO

Para conter um vírus cuja letalidade pode ser 20 vezes superior à da gripe, espera-se que a comunidade científica desenvolva, em tempo recorde, uma vacina eficiente contra a covid-19. Além da pesquisa e da testagem, a produção em larga escala e a distribuição para mais de 7 bilhões de pessoas impõem, contudo, que o enfrentamento do novo coronavírus precisa ser entendido como um problema de longo prazo.

Em debate promovido pelo UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, os divulgadores científicos Atila Iamarino e Natalia Pasternak destacam que, no melhor dos cenários, é possível ter uma vacina testada no fim de 2020, o que não significa, no entanto, que se trate de uma solução pronta para provimento mundial, tampouco 100% efetiva.

“Não é difícil chegar a uma vacina, fazer a parte técnica é o mais fácil. O que demora é a testagem”, explica Natalia, que é PhD em Genética de Microrganismo e presidente do Instituto Questão de Ciência. Segundo ela, a Sars-CoV-2, patógeno causador da covid-19, tem na Mers e na Sars-CoV-1, cujos estudos não foram extensivos em razão de a ciência funcionar aos “soluços”, seus parentes mais próximos. “Se essas pesquisas tivessem tido continuidade, talvez hoje tivéssemos uma vacina e medicamentos específicos [contra o novo coronavírus]”, ressalta.

Iamarino indica que é possível que a primeira vacina não seja eficiente para proteger todos, mas isso não deve impedir a sua disseminação, em função da emergência humanitária. “Normalmente, para outras doenças, essa vacina seria descartada se ela só despertasse imunidade em 40% das pessoas, porque não protege a humanidade, muito menos de um vírus respiratório. Mas, numa situação de emergência, é a vacina que vamos dar para os profissionais de saúde, por exemplo”, aponta o biólogo.

Embora o desenvolvimento da vacina esteja sendo feito “pulando etapas” para tornar o procedimento mais célere, Natalia ressalta o cuidado com o qual as preparações biológicas são feitas. “Lembrando que vamos vacinar 7 bilhões de pessoas; se houver 1% de algum efeito colateral grave, esse 1% se torna extremamente significativo. Então, por isso, as vacinas precisam ser testadas, e isso leva tempo”, frisa.

Diante da incerteza sobre quando a imunização estará disponível, Iamarino defende que é “mais seguro tratar a covid com um problema de longo prazo e se preparar para se adaptar ao redor dela”. Por ser um vírus que ataca o trato respiratório superior (em especial, nariz e garganta), a transmissão é muito facilitada em ambientes fechados, podendo uma pessoa infectada contaminar outras 15.

“As medidas para retardar o avanço dela são paliativas, mas fundamentais a essa altura, e os resultados são os que deviam orientar decisões políticas”, enfatiza o divulgador científico.

Soluções mágicas e teorias da conspiração

Enquanto não se tem uma resposta clara, circulam diversas teorias sobre o surgimento do novo coronavírus, entre as quais a de que o vírus teria sido produzido em laboratório.

Na avaliação de Iamarino, o fato de o patógeno se adaptar bem a seres humanos pode ocorrer por ter tido um hospedeiro com uma fisiologia parecida com a do homem, ou por estar circulando há mais tempo do que se conhece. “O que conseguimos ver olhando para o genoma do vírus é que ele não tem nenhum sinal de que foi conduzido numa direção. É muito compatível com vírus que tem na natureza e com vírus de morcego conhecidos”, explica.

Especuladas como potenciais medicamentos contra o vírus, a cloroquina e a hidroxicloroquina, recém-liberadas pelo governo federal para prescrição a pacientes com sintomas leves de covid-19, não funcionam e não são seguras, assevera Natalia. “Não funcionou em células-alvo, em animas e em humanos. A cloroquina era uma droga candidata que foi reprovada. Seria muito bom se funcionasse, mas não funcionou e não deve ser utilizada”, esclarece.

ENTREVISTADOS

CONTEÚDOS RELACIONADOS

Economia e Negócios

Brasil encontra dificuldade para gerar receita acima dos gastos 

Para Silvia Matos, do ‘Boletim Macro IBRE’, País está no negativo há mais de dez anos

ver em detalhes
Internacional

Brasil e mundo vivem uma nova era geopolítica e tecnológica 

De acordo com o cientista político Carlos Melo, a reorganização das forças globais deu origem a uma nova era “pós-Ocidente”

ver em detalhes
Economia e Negócios

Na reforma do Estado brasileiro, foco deve estar no cidadão e no controle de gastos 

Segundo Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper, e Felipe Salto, sócio da Warren Investimentos, é preciso superar o modelo federativo, que se esgotou

ver em detalhes

Quer mais embasamento nas suas discussões? Siga, compartilhe nossos cortes e participe do debate!

Acompanhe nossos posts no LinkedIn e fique por dentro
das ideias que estão moldando o debate público.