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Nenhum país no mundo é de fato soberano no século 21

DEBATEDORES | Bernardo Ivo Cruz

No século 21, em razão da interdependência das cadeias de produção ao redor do mundo, de leis transfronteiriças e de pautas multilaterais, nenhum país é verdadeiramente soberano como um dia já foi, ainda que o apogeu do multilateralismo tenha ficado para trás. É o que diz Bernardo Ivo Cruz, pesquisador associado ao Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (IEP-UCP).

Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, Cruz afirma que o multilateralismo viveu o seu esplendor entre a queda do Muro de Berlim (1989) e os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. No intervalo entre os dois fatos históricos, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou 25 conferências; a União Europeia (UE) se abriu para as nações do Leste Europeu; a democracia se aprofundou na América Latina; e os mecanismos de cooperação econômica foram postos em prática na América Latina, na Ásia e na África, além de outros eventos com suporte internacional, como o fim do apartheid na África do Sul.

Após os atentados do 11 de Setembro, ações conjuntas perderam força, até desembocarem em movimentos voltados à soberania nacional, como o governo Trump, nos Estados Unidos (2017-2021), e o Brexit, no qual o Reino Unido se desfiliou da UE.

“Durante esta década, todos os movimentos em favor da paz e da compreensão se fizeram no âmbito dos mecanismos multilaterais, nos quais ninguém impôs nada a ninguém e todos negociaram para encontrar soluções”, afirma Cruz. “Temo que não vamos regressar àquele mundo multilateral que conhecemos”, acrescenta.

Ainda assim, Cruz, que é PhD em Política e atuou na Embaixada de Portugal no Brasil, afirma que nenhum país consegue exercer plenamente a soberania no século 21.

“Ninguém é verdadeiramente soberano, nem os Estados Unidos, nem a ilha de Malta, que tem 400 mil habitantes. Ninguém é verdadeiramente soberano porque há mais de 200 países no mundo, e todos perseguem os seus interesses. A forma é encontrar um jeito em que a soberania seja limitada, mas que, neste jogo, todo mundo ganhe um pouco – ou ninguém perca muito”, pontua o pesquisador.

Cruz aponta o Brexit como exemplo de que é “difícil ser soberanista no século 21”. Segundo ele, para escapar das leis da União Europeia, formuladas no Parlamento Europeu, o Reino Unido optou por “retomar o controle”, deixando o bloco econômico. Contudo, o país convive, atualmente, com dificuldades para atrair trabalhadores menos qualificados de outras nações europeias, além de entraves nas cadeias de produção.

“Não é fácil querer ser soberano no século 21, porque as interligações são tais, as cadeias de fornecedores são longuíssimas, estão completamente integradas. Não se consegue fechar um país, porque, se fechar, fica sem ter acesso aos mercados, aos bens, às matérias-primas, aos consumidores”, avalia Cruz.

Assista à entrevista na íntegra e se inscreva no Canal UM BRASIL!

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