Nem pandemia reduz tensões políticas que estressam democracia
ENTREVISTADOS
MEDIAÇÃO
*Entrevista gravada em maio de 2020
O momento de crise grave na saúde causada por uma pandemia não foi suficiente para impedir o acirramento constante dos conflitos políticos e ideológicos no País. A conjuntura em torno da maior participação de militares em decisões do governo, da forma como o presidente Jair Bolsonaro trata os demais poderes e como tudo isso impacta profundamente a democracia foram temas centrais de um debate mediado pelo cientista político Humberto Dantas no UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP.
O canal reuniu duas cientistas políticas: a professora da Universidade Federal de Pernambuco Nara Pavão, e a professora da escola de administração pública da Fundação Getulio Vargas (FGV), Daniela Campello. Ambas jogaram luz sobre as intenções do presidente da República em se colocar no centro de diversos conflitos, sobre a presença na esfera pública de negacionistas dos danos graves da pandemia e da ditadura, e sobre como tudo isso afeta a popularidade do presidente.
“É natural que a base [de apoio] do presidente esteja se dissolvendo. Essa já era minha avaliação antes do covid-19, pois a economia não estava entregando, mas isso está muito mais claro agora”, pontua Daniela. “A estratégia de abandonar a gestão da pandemia para fazer esse jogo de defesa da economia contra os governadores não vai rolar. Ele não vai conseguir se desfazer dessa responsabilidade”, comenta.
Democracia no limite
As cientistas políticas avaliam que vários fatores conjunturais atuais estão colocando em suspensão a crença de que a democracia é permanente.
Nara explica que as pessoas costumam pensar na democracia como o fator que vai resolver todos os problemas e entregar todos os resultados por si só, mas que isso cria uma visão romantizada de como as coisas se desdobram. “A democracia existe para que se coloquem conflitos na mesa e que se apontem caminhos para a solução, e não necessariamente para trazer resultados prontos”, reitera. “O problema é que, atualmente, temos muitos conflitos e acirramentos de natureza política e econômica, e essas crises irão se acentuar ainda mais daqui para frente”, pondera a professora.
Ela comenta que, de forma geral, há uma ideia de que para a democracia se dissolver seria necessário que acontecesse algo muito grave, como um golpe militar, mas a adesão à democracia perde sua força de modo mais gradual. Isso ocorre por conta dessa visão simplista que, de certa forma, condiciona o apoio aos valores democráticos a um bom resultado econômico ou à baixa corrupção, enfatiza Nara.
Daniela diz que o constante discurso antidemocracia, os ataques à mídia e à liberdade de expressão, as instituições de controle em questionamento e as instituições de políticas públicas que já não funcionam na direção para as quais foram criadas nos deixam em uma situação muito preocupante.
“Não precisamos de indicadores para perceber que existe um problema sério acontecendo. Eu teria muita dificuldade para defender que vivemos em uma democracia operante. Existe um discurso antidemocrático e de descrédito das instituições que vem do presidente e que é inaceitável. A democracia não foi feita para suportar isso”, conclui.
Assista na íntegra! Inscreva-se no canal UM BRASIL.

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