Leniência ambiental é flerte com boicote internacional
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Se assumir um papel de liderança em relação às questões ambientais, o Brasil tem muito a ganhar na comunidade internacional. Por outro lado, caso persista com uma política negligente no que diz respeito à preservação da Amazônia, corre sério risco de enfrentar um boicote por parte de investidores estrangeiros. É o que diz Cristina Cortes, CEO da Canning House, think tank britânico que desenvolve interlocuções entre o Reino Unido, a América Latina e a Península Ibérica.
Em entrevista ao Canal UM BRASIL, realizada em parceria com a Revista Problemas Brasileiros (PB), ambos realizações da FecomercioSP, como parte da série Brasil Visto de Fora, Cristina destaca que, atualmente, a mensagem que o Brasil transmite ao exterior é de que não leva a sério o desmatamento do bioma amazônico, tampouco as mudanças climáticas. Com isso, o País flerta com possíveis boicotes internacionais.
“O Brasil que conheço é capaz de se tornar o lugar mais promissor do mundo por meio de planos e tecnologias voltados à biodiversidade e ao planeta”, frisa a economista política, formada pela Universidade de Oxford e pela London School of Economics. “O Brasil tem muito a ganhar se fizer isso e muito mais a oferecer. E seria uma grande pena se não assumisse este papel”, complementa.
Cristina avalia que, embora o maior parceiro comercial do Brasil seja a China, um país menos engajado na preservação ambiental, a União Europeia e os Estados Unidos ainda são as maiores fontes de investimentos e empréstimos internacionais. Portanto, ignorar a pauta ambiental, daqui para a frente, se traduz em um risco econômico real.
“Se juntar tudo, os recursos, a experiência e o conhecimento que o Brasil tem a oferecer em relação ao meio ambiente, arriscar-se com manchetes [negativas] e boicotes é totalmente desnecessário”, alerta.
Neste sentido, ela indica que o País tem de começar a mudar a imagem que transmite ao mundo. “O problema é que, se errarem neste ponto, o risco que o Brasil vai enfrentar serão boicotes internacionais por empresas e consumidores de produtos brasileiros, além de exclusão das cadeias de abastecimento internacionais por causa das preocupações ambientais”, reforça.
De acordo com a CEO da Canning House, o Brasil, no mínimo, deveria se preocupar com questões ligadas ao meio ambiente ainda que fosse “por puro egoísmo nacional”, de modo a evitar ser isolado por outras nações.
Cristina também ressalta que o País precisa direcionar a economia aos setores do futuro.
“Muitos setores, como o de biociências ou firmas ambientais, que estão florescendo em partes da Europa e do Reino Unido, por exemplo, devem ter homólogos no Brasil com os quais possam contar, mas isso não está acontecendo. O Brasil ainda está contando com empresas mineradoras, de petróleo e gás. São estas que estão olhando para o Brasil. Elas não são os setores do futuro. Isso é o que eu considero um grande problema”, pontua.
“Brasil Visto de Fora”
Esta entrevista faz parte de uma série realizada pelo UM BRASIL em parceira com a Revista Problemas Brasileiros (PB), editada pela FecomercioSP. A série, comandada pelo jornalista Daniel Buarque, tem episódios em vídeo disponíveis aqui, no site do UM BRASIL (Richard Lapper, Allison Fedirka, Marshal Eakin), e em áudio, no podcast da PB. Também tem o apoio cultural da revista piauí.
Assista à entrevista na íntegra e se inscreva no Canal UM BRASIL!
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