Pandemia pode colocar Brasil de volta no Mapa da Fome
ENTREVISTADOS
*Entrevista gravada em abril de 2020
Quase 100 milhões de pessoas já buscaram receber o auxílio emergencial de R$ 600 para manter alguma renda durante a pandemia do coronavírus – praticamente metade da população brasileira. “O Brasil já vinha em uma linha ascendente de pessoas que vivem na linha da pobreza, com menos de US$ 1,90 por dia [pelos parâmetros da ONU]. Isso é preocupante e a pandemia vai agravar muito o problema da fome. Mais do que nunca, é necessário um trabalho muito forte do setor público brasileiro para impedir que uma pandemia de pessoas morrendo de fome aconteça”, alerta o diretor do Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil, Daniel Balaban.
Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, o economista analisa como a pandemia pode agravar problemas de longo prazo do País: a extrema pobreza e a fome.
Ele enfatiza que o Brasil tem hoje 9,3 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. “Saímos do Mapa da Fome da ONU em 2014. Corremos um risco sério de voltarmos a esse mapa. Estimativas apontam que, neste ano, podemos ter um total de 14 milhões nessa situação”, ressalta.
Ainda que esse cenário leve em conta a pandemia, o Brasil já voltava paulatinamente ao Mapa da Fome, pondera. “Isso por conta da crise econômica, [pelo rumo das] políticas governamentais, pela falta de investimento e pela redução das políticas sociais”, aponta Balaban. “Entre 1990 a 2014, o Brasil conseguiu tirar 71% das pessoas da linha da pobreza. Em apenas cinco anos (entre 2015 a 2019), praticamente essa população toda voltou àquela condição”, esclarece.
O Mapa da Fome analisa informações sobre a segurança alimentar em todo o mundo. Em 2014, os dados do Brasil apontavam que menos de 5% da população estava em situação de subalimentação – o que nos retirou do relatório.
Se continuarmos a retirar esses recursos apenas em razão de economizar, diz, a escolha que irá se impor será a volta da pobreza, de doenças e da fome. “Esse deveria ser um debate público. É isso que queremos para o Brasil?”, questiona. “Mesmo que não seja pelo aumento da dívida, todos os países encontram meios de fazer essa equalização e continuar com investimentos públicos importantes”.
Outro ponto que Balaban avalia na entrevista é o acesso do estudante à alimentação escolar durante a pandemia, tendo em vista que as escolas não podem funcionar presencialmente. “O programa de alimentação escolar adotado pelo Brasil nos ajudou a sair do Mapa da Fome. O próprio governo já definiu que, agora, os alimentos devem ser levados até às casas desses estudantes. Isso é imprescindível, já que para metade desses alunos, a alimentação escolar é a principal refeição do dia”, conclui o economista.
Confira a entrevista na íntegra. Inscreva-se no canal UM BRASIL.
Foto: WFP/Natan Giuliano
ENTREVISTADOS

CONTEÚDOS RELACIONADOS

Cuidar da primeira infância é o caminho para desenvolver o País
Segundo a médica Vera Cordeiro, do Instituto Dara, combater desigualdades passa por garantir atenção, dignidade e direitos às crianças
ver em detalhes
Brasil precisa renovar a agenda do debate público
Para o cientista político Fernando Schüler, o País precisa abandonar polarização e focar em questões mais relevantes
ver em detalhes
Desafios da geopolítica mundial: democracia, eleições e comércio
Para Christopher Garman, crescem figuras políticas com discurso antissistema e anti-imigração na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina
ver em detalhes