Influência das relações internacionais nas eleições será cada vez maior
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O que você vai encontrar nesta entrevista?
- As relações diplomáticas e comerciais que o País desenvolve com as outras nações terão cada vez mais influência nos processos eleitorais. É o que acredita Feliciano de Sá Guimarães, que atua como diretor acadêmico e pesquisador sênior no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
- Na opinião do pesquisador, as ações do presidente Donald Trump são guiadas, justamente, pela expectativa de que a política externa influencie as próximas eleições brasileiras.
- Guimarães acredita que, qualquer presidente, do Lula ao próximo, deverá ter plena consciência — e já tem — de que temas e posicionamentos internacionais afetam a própria popularidade.
Diferentemente do que se pensava anos atrás, hoje, a política externa define voto no Brasil. As relações diplomáticas e comerciais que o País desenvolve com as outras nações terão cada vez mais influência nos processos eleitorais.
É o que acredita Feliciano de Sá Guimarães, que atua como diretor acadêmico e pesquisador sênior no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
“A eleição de outubro de 2026 será, talvez, a primeira do Brasil, na história da República Nova, em que política externa estará nas urnas de uma forma muito forte”, observa.
Em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, Guimarães também analisa o papel do Brasil na América Latina.
Política externa define voto
- Temas globais ganham destaque. Guimarães lembra que, no passado, muitos diziam que o Itamaraty não influenciava nas eleições. Atualmente, não é bem assim. Ao longo de mais de três décadas de democracia, o noticiário internacional vem ganhando destaque. “Os brasileiros têm opinião sobre o conflito em Gaza, sobre a guerra na Ucrânia e sobre o que os Estados Unidos estão fazendo com o Brasil”, explica.
- De olho em 2026. Na opinião do pesquisador, as ações do presidente Donald Trump são guiadas, justamente, pela expectativa de que a política externa influencie as próximas eleições brasileiras. Nos últimos dois meses, o líder anunciou tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros, acusou o Supremo Tribunal Federal (STF) de perseguição política e aplicou sanções contra o ministro Alexandre de Moraes.
- Efeitos internos. “Qualquer presidente, do Lula ao próximo, deverá ter plena consciência — e já tem — de que temas e posicionamentos internacionais afetam a própria popularidade”, completa Guimarães.
Presença no Sul Global
- O Brasil ainda não age como liderança regional. Na opinião do pesquisador, para liderar a América Latina, o País precisaria dispor de dois poderes: o normativo e o econômico. O primeiro refere-se à capacidade de impor normas regionais. O segundo baseia-se em dar incentivos e, se necessário, operar mediante coerção econômica para impor essas normas. “O Brasil nunca conseguiu fazer isso. Em alguns momentos teve mais poder, em outros, menos. Agora é um momento muito difícil”, avalia.
- Somos médios ou emergentes? “Se você é uma potência média e se contenta com isso, pode perder oportunidades internacionais por achar que esse poder é sempre limitado”, pondera. “Se você é emergente, pode cometer um outro erro, que é dar um passo maior que a perna e se envolver em temas em que você não consegue sustentar a longo prazo”, observa Guimarães.
- Meio do caminho. Segundo o pesquisador, esse é um dilema típico de uma potência regional. O Brasil talvez seja uma potência média, talvez emergente. “O que nós realmente somos é uma potência regional na América do Sul. E, a despeito disso, temos todos os problemas e dificuldades da região”, conclui.
- O Brasil abandonou a Venezuela. Hoje, o pesquisador lembra que o País não tem grandes empresas atuando na nação vizinha. Enquanto isso, Nicolás Maduro estreita relações com outros países. O petróleo é comprado da China; a técnica para desvirtuar as sanções econômicas dos norte-americanos vem do Irã; já o equipamento militar provém da Rússia e da Turquia, lembra Guimarães. “Enquanto esses países continuarem a apoiar a Venezuela, Maduro estará em uma posição relativamente estável. Ele não precisa do Brasil para nada”, reflete.
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