Discurso sobre o papel da educação no Brasil é feito apenas “da boca para fora”
MEDIAÇÃO
O professor titular de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP), Renato Janine Ribeiro, diz que o Brasil vive uma desigualdade educacional que, se não for combatida, pode se aprofundar ainda mais na sociedade.
“Se não tomarmos o cuidado de dar acesso a todos, a educação vai se tornar uma porta de maior desigualdade ainda do que já é.” Em entrevista ao UM Brasil, o ex-ministro da Educação entre abril e outubro de 2015 afirma que a formação do cidadão brasileiro é desigual desde o primeiro ambiente escolar, a creche, com risco de esse atraso nunca ser recuperado.
“Se a criança não tem meios de ter algum tipo de educação básica, como alguém que olha para ver se ela não se machuca, não tem nenhum trabalho pedagógico, então fica um pouco limitada em relação à outra que terá tido um professor capacitado.”
Janine diz que o aluno adolescente não tem que enfrentar um número excessivo de matérias no Ensino Médio, mas que o erro está na falta de ligação entre o currículo escolar e a vida social, já que este é o último período de formação obrigatória.
“O Ensino Médio tem que entregar um produto, de certa forma, acabado para os alunos que se formam nele. Me parece que há uma fraqueza muito grande de uma parte que é das mais importantes para as pessoas tocarem a sua vida, que é a informação sobre como funciona a sociedade atual, como funciona a economia, como funciona a democracia, o que temos de saber de ética, elementos básicos de psicologia.”
O ex-ministro também afirma que o País construiu propositalmente uma sociedade desigual e que o discurso sobre o papel da educação é feito apenas “da boca para fora”. “Se a educação é a chave do futuro, você vai tentar entender que a ignorância é tão ruim quanto uma doença. Só que a doença tem sintomas e as pessoas vão ao médico e pedem, então, verbas para a saúde. Nas eleições, se fala em saúde, saúde, saúde. Enquanto que as pessoas não têm noção dos males que a ignorância faz, então na campanha eleitoral não se fala quase de educação.”
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