O governo Michel Temer só pode ser bem-sucedido se descontentar diversos estratos da sociedade, avalia o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega. Em entrevista ao UM BRASIL, o economista diz que, em razão do ritmo crescente da dívida pública, o País precisa fazer reformas em vários setores da economia para ampliar a capacidade produtiva e evitar a insolvência fiscal.
“Precisamos fazer uma série de reformas que tenham como foco a eficiência do sistema tributário, a Previdência, a educação, a qualificação do trabalhador brasileiro”, diz Nóbrega. “O trabalhador brasileiro tem uma produtividade que é de apenas 20% da do americano. Isto é, em igualdade de condições em termos ambientais, de instrumentos e de máquinas, um trabalhador americano produz cinco vezes mais.”
De acordo com o economista, o papel do governo Temer é fazer reformas contra o interesse de “grupos poderosos”, muitos dos quais foram beneficiados na criação da Constituição de 1988, como funcionários públicos e aposentados. “Se descontentariam grupos de educação, sindicatos, aposentados. Portanto, o êxito do Temer, pelo menos na dimensão que espera o mercado financeiro, só é possível se ele descontentar muita gente.”
Em comparação aos dois outros políticos que se tornaram presidentes pelo PMDB, José Sarney e Itamar Franco, que também não foram eleitos, Nóbrega diz que Temer se assemelha mais ao primeiro. “O caso Itamar Franco não é reproduzível. O sucesso dele nasceu de um conjunto grande de circunstâncias e de acasos, que dificilmente se reunirão novamente.” O especial sobre a Previdência pode ser acessado online e oferece uma extensa gama de informações, desde dados históricos a comparações com os sistemas de outros países e explicações minuciosas sobre o déficit das contas.