Fazer o exercício da cidadania acontecer vai além do voto
ENTREVISTADOS
“Movimentos de renovação provam que, no sistema democrático, sempre há possibilidade de reparar as lacunas que fazem com que a democracia fique mais frágil”, afirma o servidor público federal e copresidente do Frente Favela Brasil, Derson Maia. Ao lado da cientista política e professora de pós-graduação da FESPSP, Mônica Sodré, ele participa de conversa a convite do canal UM BRASIL sobre democracia.
O debate é uma realização da plataforma UM BRASIL em parceria com o Colégio Bandeirantes, com mediação da jornalista Maria Cristina Poli.
“Movimentos que forçam a institucionalidade do governo a se abrir à transparência pública pulverizam o poder, de modo que as pessoas participem ativamente da política”, explica Maia. Para ele, a democracia, por permitir a valorização das liberdades individuais, constitui a melhor forma de fazer política e representar os cidadãos. “Poder se expressar livremente, juntar-se a pessoas e fazer o exercício da cidadania acontecer vai além do voto”, crê.
A teoria diz que democracia é um sistema de tomada de decisão em que as pessoas são iguais perante a lei e têm o mesmo valor, segundo a explicação de Mônica Sodré. “É um sistema que, desde o século 17, associou-se à representação, que permite que as pessoas de tempos em tempos escolham seus representantes por meio do voto”, afirma.
“Vivemos em um momento polarizado, e a democracia como valor está cada vez mais difícil de ser exercitada. Estamos num mundo cada vez mais rápido, impaciente, conectado, com disseminação de notícias falsas. Acredito que a democracia precisa se adaptar a um contexto mais complexo do que quando ela surgiu, até do ponto de vista da representação”, observa a professora.
Representação política
“A mulher é sub-representada politicamente: existe uma dificuldade de ascensão da mulher nos espaços de tomada de decisão, e a política é apenas mais um deles”, afirma Mônica. “Queremos renovar a política não só de rostos, mas de prática. O que aconteceu no Rio de Janeiro [sobre o assassinato da vereadora carioca do PSOL, Marielle Franco, no dia 14 de março] me faz pensar que nossa geração, que vinha se aproximando da renovação política, vai ter dúvidas. Isso me impacta muito.”
“Será que, passando por um momento desses, fazemos parecer que a política é um lugar duvidoso?”, questiona a professora. “Precisamos ressignificar e dar sentido a isso. Este é o momento de estarmos juntos e nos fortalecermos. Esses movimentos têm de ter vida longa”, conclui.
Democracia racial
Sobre democracia racial, Derson Maia afirma que as redes sociais têm possibilitado o alcance de projetos de grupos de resistência negra. “A luta negra no Brasil sempre esteve atuante e, hoje, isso alcança determinados setores que antes estiveram afastados desse debate por meio das redes”, diz.
“O Frente Favela Brasil foi muito impulsionado pelas redes sociais, que permitiu a conexão de comunidades, todos em rede debatendo seus problemas. Em qual período da história a gente teria essa potencialidade toda?”, questiona Maia. “Isso vem para fortalecer nossa democracia, que chega em áreas que estiveram historicamente afastadas desse debate.”
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