Falha na educação facilita avanço do movimento anticiência no País
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A sociedade precisa de cidadãos que entendam e apreciem a ciência. Mais do que isso, que compreendam a importância de se investir na área via recursos governamentais, tendo em vista que a maior parte das pesquisas é gerada em instituições e laboratórios públicos. Duília de Mello, astrônoma e consultora da Nasa, lembra que, como no mundo todo a ciência é financiada com dinheiro dos impostos, é fundamental que o cidadão entenda o papel do investimento.
Duília, também professora titular de Física na Universidade Católica da América, nos Estados Unidos, explica que é preciso motivar os alunos a entender que até mesmo coisas que pareçam distantes têm um peso grande no cotidiano e, por isso, dependem da ciência para mais avanços. “Um GPS, uma luz de LED, o celular e todo este avanço tecnológico dos últimos milênios, por exemplo, são frutos da ciência e do conhecimento humano.”
Confira, a seguir, alguns destaques da entrevista do canal UM BRASIL – uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
O movimento anticiência e a relevância da divulgação científica
Segundo a astrônoma, há, no País, uma falha educacional em curso, a qual não se percebeu (ou, se percebida, não houve ação contrária). “O nosso estudante não tem pensamento crítico ou embasamento suficiente para provar que a Terra não é plana, por exemplo. Então muitos são facilmente convencidos de que é plana.”
Para ela, este déficit deságua inclusive no movimento antivacina – que a pandemia evidenciou. “O fato de a educação não trazer isso para a escola, e o estudante não saber o poder da vacina e quão boa para a humanidade ela tem sido, é que causa este movimento anticiência.” Duília ainda pontua que é essencial rever o currículo escolar desde a infância, para que as crianças já aprendam a desenvolver senso crítico.
Ciência no Brasil
A situação dos cursos de pós-graduação no País é grave, segundo a astrônoma, diante da falta de recursos para a compra de equipamentos e para subsidiar o que é necessário para o desenvolvimento de pesquisas de qualidade. “Eu fiz graduação, mestrado e doutorado sempre com bolsa – e bolsa para tudo. De repente, nos últimos anos, tudo o que me possibilitou ter esta carreira, muitos não tiveram. É muito triste ver isso, ver meus colegas com dificuldade de manter projetos atuantes.”
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Volta à Lua
Há uma grande chance de que uma futura missão à Lua seja mais representativa, sobretudo com a presença de pessoas não brancas e asiáticos. Duília explica que, conforme afirmou a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, o primeiro astronauta internacional a integrar a missão será um japonês. “Isso é muito marcante, vai além da nossa capacidade de entendimento do que representa.”
A entrevista faz parte da série UM BRASIL e BRASA EuroLeads 2023, realizada em parceria com a Revista Problemas Brasileiros (PB). Confira também as entrevistas produzidas na primeira edição da série, gravadas em 2021, e os episódios exclusivos em podcast na PB: https://umbrasil.com/parceiros/brasa-euroleads/.
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