Conservadorismo revanchista triunfa no mundo como inimigo da democracia liberal, das instituições independentes e do Poder Judiciário
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Há uma pergunta que tem marcado cada vez mais presença no Brasil, nos Estados Unidos e em várias outras nações que passaram por algum governo mais à direita (ou até mesmo à extrema direita): o período que vivemos realmente representa uma guinada ao conservadorismo?
Na análise de João Pereira Coutinho, cientista político e escritor português, esse conservadorismo que se faz presente tem aspectos reacionários e, a despeito de não ser original, é, essencialmente, “iliberal”, ou seja, “lida muito mal com a democracia liberal e com tudo o que ela implica: instituições independentes, liberdade de expressão e com as formalidades institucionais que garantem que a democracia não seja apenas uma vontade da maioria”. Em entrevista ao canal UM BRASIL – uma realização da FecomercioSP –, Coutinho ressalta que o conceito de conservadorismo em si não é uniforme: existem as declinações liberal, reacionária e, até mesmo, revolucionária.
Nesta entrevista, ele elenca alguns fatores que levaram a este ambiente e suas consequências à sociedade. Confira os destaques.
Um conservadorismo avesso às instituições
O tipo de conservadorismo com que o mundo lida atualmente é mais revanchista e tende a ter uma grande proeminência em momentos de crise, em vários períodos históricos, tal como na Revolução Francesa e, mais tarde, com o nacionalismo francês no fim do século 19. “Neste momento, acontece nos Estados Unidos. Esse conservadorismo nacionalista chega ao extremo de achar que o importante casamento entre o conservadorismo e o liberalismo – sobretudo durante a Guerra Fria, diante de um inimigo comum – já não tem mais sentido. Agora, os inimigos são o liberalismo, as instituições independentes e o Poder Judiciário”, pondera.
Direita tradicional só tem a perder com o alinhamento à direita radical
Esta transformação que o cientista político comenta ocorre em um momento em que o conservadorismo – em sua forma mais clássica – perde espaço, em especial na Europa. “Os conservadores liberais tradicionais foram sendo ‘esmagados’ pela direita radical. Já observamos isso em vários momentos na história. Contudo, a perdição para os conservadores liberais só acontece quando passam verdadeiramente a defender o mesmo que as extremas direitas radicais. São eles que mais têm a perder se tentar imitar aquilo que os radicais fazem melhor.”
O que motiva o reacionarismo contemporâneo
Uma das coisas que explica como chegamos até este ponto é o fato de que este século, desde a primeira década, é marcado por crises, e isso desgastou o relacionamento entre democracia liberal e crescimento econômico. Segundo Coutinho, o essencial do discurso reacionário se fortaleceu entre as duas grandes guerras a partir da ideia de que a democracia liberal havia falhado em dar resposta às necessidades das pessoas, de forma que era necessário um poder soberano forte, centralizado e antiparlamentar.
Apesar de ter gerado os horrores do século 20 em praticamente toda a Europa, este tipo de argumento retorna como um contraponto à forma como a democracia liberal lida com crises – e o que faz de forma eficiente é semear o “fracasso do liberalismo”.
“Liberal, mas só na economia”
Coutinho analisa algo muito comum na América Latina, sobretudo no Brasil, que é a defesa do liberalismo econômico pelos integrantes mais engajados dos movimentos reacionários. Um dos fenômenos do continente, segundo o cientista político, é que até mesmo liberais proeminentes acreditam que o liberalismo econômico depende de um governo forte, centralizado e autoritário. “Eles esquecem que o liberalismo não começou pela economia, mas pela política, pelo princípio de que ninguém está acima da lei, de que o poder deve ser limitado e que não existe um ser humano com onipotência suficiente para governar toda uma comunidade.”
Esta é a segunda entrevista da série UM BRASIL e BRASA EuroLeads 2023, realizada em parceria com a Revista Problemas Brasileiros (PB). Confira também as entrevistas produzidas na primeira edição da série, gravadas em 2021, e os episódios exclusivos em podcast na PB: https://umbrasil.com/parceiros/brasa-euroleads/.
Ao que mais você assiste nesta entrevista
- O pensamento reacionário contemporâneo à direita
- Latinos e pessoas negras votando de forma massiva no Partido Republicado estadunidense
- O conservadorismo revanchista tenta promover uma regressão histórica fantasiosa
- O que os ataques em Brasília e ao símbolo do Poder, de 8 de janeiro de 2023, representam para pessoas de centro e de direita
- A reação da Europa, e o posicionamento do Brasil, em relação à Rússia e à Ucrânia
- Liberdade de expressão e punição nas redes sociais
- Inteligência Artificial (IA) como oportunidade ao ensino e ao conhecimento
Não deixe de conferir também a primeira entrevista do canal com Coutinho, realizada em 2018:
Sociedade precisa do debate entre conservadores e progressistas
https://umbrasil.com/videos/sociedade-precisa-do-debate-entre-conservadores-e-progressistas/
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