Educação brasileira tropeça na ponte que liga o sonho à realidade
ENTREVISTADOS
No campo da educação, o Brasil ainda não se deu conta de que a ponte que liga as diretrizes do ensino à realidade das escolas é construída com financiamento, treinamento e recursos adequados para a efetiva melhora das condições de aprendizagem. Deste modo, sem o devido suporte a professores, alunos e redes de ensino, normas como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tendem a permanecer como um sonho que não se materializa. Esta é a avaliação de Paulo Blikstein, professor do Teachers College, da Universidade Columbia, e pesquisador nas áreas de Novas Tecnologias e Ensino.
Em entrevista ao Canal UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, Blikstein comenta que, nos Estados Unidos, é comum o financiamento para experimentação de métodos alternativos de ensino. No Brasil, ao contrário, pensa-se que apenas leis e regulamentações são suficientes para aperfeiçoar a qualidade da educação.
“Muitos dos problemas que temos em relação a fazer leis, escrever bases e textos introdutórios é que eles ficam muito na aspiração, no sonho e no projeto. Não conseguimos ainda – e acho que este é um dos grandes problemas da educação brasileira – fazer a ponte entre o sonho e a implementação na ponta”, afirma o pesquisador.
Doutor em Ciências da Aprendizagem, Blikstein afirma que “não adianta ter um documento nacional com princípios excelentes se você não fizer o resto do trabalho”, isto é, implementar, de fato, os procedimentos na sala de aula.
“Esse processo é caro, demora uma geração para ser feito. Pense na saúde, no SUS [Sistema Único de Saúde]. Não dá para improvisar. Na Educação, também não deveríamos improvisar”, pontua.
Ele cita o material didático como exemplo de desafio para o País. “Não adianta ter uma Base Nacional [Comum] Curricular excelente se o material didático que chega ao aluno é de má qualidade. E fazer esse material é muito caro e trabalhoso. Você precisa fazer pesquisa, precisa ter profissionais de várias áreas fazendo isso. E este é um dos pontos que acho que não acertamos ainda no Brasil: a produção do material didático”, aponta o professor.
Crítico da BNCC, especialmente no que diz respeito às disciplinas científicas, Blikstein desaprova a celeridade com que a norma foi discutida e implementada. Ele também questiona a aplicabilidade da metodologia.
“Os textos introdutórios são fantásticos. Agora, pôr esses textos em prática exige uma quantidade de recursos que nem se começou a investir ainda. Então, quando falamos em habilidades do século 21, ensinar tecnologias e computação, quem vai ensinar isso? Qual professor está sendo treinado para ensinar isso? Onde está a produção de materiais didáticos para isso? Onde está o espaço dentro da grade escolar para ensinar isso?”, indaga o especialista.
Além disso, Blikstein aponta que as escolas públicas podem ficar ainda mais atrasadas no processo de modernização do ensino.
“Quem toma as decisões sobre a escola pública, às vezes, não a conhece, porque são pessoas cujos filhos estão na escola particular. Nos Estados Unidos e na Europa, todo mundo está na escola pública. Enquanto não tivermos, no Brasil, o filho do rico e o filho do pobre na escola pública, não vamos nunca chegar a ser o tipo de civilização que queremos ser”, frisa o pesquisador.
Assista à entrevista na íntegra e se inscreva no Canal UM BRASIL!
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