Combate às carências e desigualdades deve ser motor do crescimento
ENTREVISTADOS
No Brasil, perdemos a percepção de que há carências e desigualdades não só quanto à renda, mas no acesso a saneamento, saúde pública, educação e transporte. Há desigualdade, inclusive, na maneira como as cidades estão organizadas. Em entrevista ao UM BRASIL, plataforma mantida pela FecomercioSP, a economista Laura Carvalho faz essa análise e ressalta ainda que as carências no País são tão profundas que não é possível, em sua visão, pensar em um modelo de expansão econômica que não tenha no centro essas lacunas como o próprio motor de crescimento.
“Eu não concordo com a visão que coloca determinados setores da indústria como motor de crescimento. A gente não deve pensar no modelo de crescimento de longo prazo olhando para um setor específico ou outro. Acho que temos de olhar para as nossas carências e tentar mobilizar todos os recursos possíveis para supri-las”, comenta. “E, de alguma maneira ao fazer isso, também desenvolver tecnologias ligadas a vários setores”. Para ela, a participação dos bancos públicos na mobilização produtiva para dar conta dessas carências é importante.
Na entrevista, Laura explica como seu livro Valsa brasileira: do boom ao caos econômico faz uma análise dos erros que o País cometeu nesta década nas agendas econômicas, tanto a fiscal – por meio de ajustes e cortes profundos nos gastos durante a crise econômica –, quanto na forma como a população é tributada. Ela diz que a Reforma Tributária que o governo tem colocado em debate constantemente não é um bom ponto de partida.
“O problema mais gritante do nosso sistema tributário é que ele é altamente regressivo e faz com que todo o esforço de distribuição de renda se torne inócuo, com altas alíquotas de imposto sobre o consumo e a produção; e baixas alíquotas de imposto sobre a renda e o patrimônio”, critica.
Ela também explica os acertos da oposição em conseguir retirar da Reforma da Previdência as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e ainda a idade mínima de contribuição, que, segundo ela, prejudicariam sobretudo as mulheres mais pobres, que ficam muito tempo no mercado informal, que cuidam dos filhos e que saem do mercado de trabalho por um tempo.
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