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Brasil saberá tirar proveito da reconfiguração econômica global?

DEBATEDORES | Marcos Troyjo

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O mundo está caminhando para uma situação perigosa em que várias nações buscam enfrentar a megacompetição internacional com uma postura protecionista, cuja consequência, além da barreira à liberdade comercial, tem sido a retaliação por parte de outros países. Isso tem ocorrido com Estados Unidos (EUA), União Europeia (EU), Reino Unido, Japão, entre outros. “Começa-se o que os ingleses chamam de uma corrida até o fundo do poço, que não é boa para ninguém. Um dos antídotos que temos na nossa região para combater isso é viabilizar o acordo comercial entre Mercosul e UE”, defende Marcos Troyjo, economista, diplomata e  ex-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, em entrevista ao Canal UM BRASIL, uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Ele também é acadêmico-visitante na Universidade de Oxford e no INSEAD’s Hoffmann Global Institute for Business and Society; e foi secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais.

Esse conflito está coberto por uma mudança histórica na economia global, isto é, a eclosão da China como principal potência em termos tecnológicos, econômicos, comerciais e militares. “Estamos sucedendo uma fase em que se imaginava incontestável a liderança dos EUA no prestígio e na influência internacionais, no poder militar convencional ou nuclear e do ponto de vista econômico. A última vez que um país ultrapassou outro como maior economia do mundo foi em 1871, quando o Produto Interno Bruto (PIB) estadunidense se tornou maior do que o do Reino Unido. Estamos prestes a ser testemunhas oculares de um novo eclipse dessa natureza”, enfatiza. “Hoje, de cada três países, dois têm a China, e não os EUA, como principal parceiro comercial. Isso inflama o universo de concorrência.”

Mundo de desafios e oportunidades

Troyjo lembra que, apesar de vivermos em um mundo em múltiplas crises — passando, inclusive, a conviver com pandemias —, há também múltiplas oportunidades presentes, como o crescimento populacional mundial nos próximos 25 anos, que deve ultrapassar 10 bilhões de pessoas e gerar uma demanda imensa por mais energia, comida, água e inclusão social, isso tudo em paralelo ao crescimento econômico mundial puxado pelos países emergentes. “Isso gera, por exemplo, não apenas uma reconfiguração do mundo, mas também põe o Brasil em uma posição muito importante, pois somos protagonistas no universo das seguranças alimentar e energética e daquilo que virá a ser a economia verde. A maneira como a redistribuição de ‘cartas’ tem ocorrido é um jogo perigoso, mas o País tem grandes oportunidades”, complementa. Da ótica brasileira, nesse cenário conflagrado, o economista ainda adverte que não devemos aceitar essa lógica de ‘Guerra Fria’, de forma que precisamos agir como um global trader e negociar com todos, sem viés ideológico.

“O Brasil é o país que realmente pode ser esse grande ator. É muito importante que, nos próximos dez ou 15 anos, a gente consiga fazer valer esses excedentes extraordinários mediante o nosso papel como produtor de alimentos, com o objetivo de utilizar os recursos de modo a tornar a nossa sociedade intensiva em tecnologia em diferentes áreas. Precisamos usar nossa vantagem comparativa para construir vantagens competitivas”, salienta.

Acordo com União Europeia

O diplomata acrescenta que a questão em torno do acordo entre Mercosul e EU como um antídoto ao atual cenário global esbarra, em partes, nos mesmos entraves impostos na década de 1990, ou seja, os protecionismos europeu e do próprio bloco sul-americano. “O protecionismo, de ambos os lados, não ajuda. Se considerarmos as nossas tarifas de importação, o Mercosul é uma fortaleza. Os poucos grupos da região bem estabelecidos não querem ver isso mudar.”

“O acordo é muito bem construído e ótimo para ambos os lados. Acontece que não fizemos uma lição de casa: explicar bem algumas de suas posições nos fóruns nos quais o meio ambiente estava relacionado, pois já firmamos o compromisso de nos associarmos ao Acordo de Paris. Alguns setores europeus, como o lobby protecionista agrícola — que abraça ideias até mesmo superficiais do que é desenvolvimento sustentável — não quer ver o acordo prosperar pelas mesmas razões que não queria lá atrás”, pondera Troyjo.

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