Brasil precisa renovar a agenda do debate público
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- Em entrevista ao Canal UM BRASIL, Fernando Schüler, cientista político, professor no Insper e curador do Fronteiras do Pensamento, afirma que o debate público no País não deve ser pautado pela “temática comportamental” tampouco pela “histeria entre direita e esquerda”.
- Schüler argumenta que, com a intensificação da polarização, há mais dificuldade em se fazerem as reformas necessárias para o País.
- De acordo com o cientista político, o Estado brasileiro deveria seguir a lógica de “boa regulação e bons contratos” e deixar o setor privado trabalhar pela melhoria na produtividade, no ambiente de negócios e na qualidade dos serviços.
Segundo Fernando Schüler, cientista político, professor no Insper e curador do Fronteiras do Pensamento, o Brasil precisa virar a página do debate político.
Ele argumenta que seria prejudicial para o País se, nas futuras campanhas eleitorais, o debate público fosse pautado pela “temática comportamental” e pela “histeria entre direita e esquerda” sobre quem é democrata e quem não é.
O cientista político acredita que o Brasil precisa mudar a discussão que pautou as eleições de 2022. “Acaba mascarando as questões centrais nacionais: o que vamos fazer com o nosso Estado de bem-estar social? Como incluir as pessoas no mercado de trabalho? Como mexer com a produtividade, abrir a economia? Como lidar com a pobreza e resolver o problema da educação no Brasil?”, questiona.
O cientista político ainda destaca que são essas as questões brasileiras relevantes, de fato. “A pergunta é: existe espaço para alguém explorar essa agenda? Existe, sim”, conclui.
Em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) — Schüler ainda debate o papel do setor privado na resolução dessas questões e os caminhos para melhorar o ambiente de negócios e a produtividade no País.
“Leviatã assistencialista”
- Grande risco. Segundo Schüler, se nada mudar, o Estado brasileiro pode se transformar em uma espécie de “Leviatã assistencialista”. “Um Estado caro, com baixa produtividade e com milhões de brasileiros em idade produtiva dependentes cronicamente, sem via de saída nem perspectiva de reinclusão de mercado — e com uma educação deficitária. Esse é o grande risco brasileiro”, completa.
- Setor privado. O cientista político afirma que o Estado brasileiro deveria seguir a lógica de “boa regulação e bons contratos” e deixar o “setor privado, seja com fins lucrativos, seja sem fins lucrativos, fazer o que sabe de melhor”. Ele cita, como exemplos, iniciativas de concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs).
- Alternativas. Segundo o especialista, com a concessão do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, houve aumento de qualidade. “A cidade ganha. O mercado ganha. Todo mundo ganha. É o jogo de ‘ganha-ganha’ quando você se especializa nisso”, pontua.
- Modelos de sucesso. Schüler também cita as experiências dos aeroportos brasileiros, que conseguiram se modernizar com a ajuda da iniciativa privada, e do Hospital do Subúrbio, na Bahia. “É um hospital 100% SUS, totalmente gratuito e totalmente privado com fins lucrativos. É um modelo internacional — sucesso de uma PPP que consegue fazer essa gestão”, explica.
Produtividade estagnada
- Ambiente desfavorável. Hoje, o Brasil tem dificuldade de oferecer, de fato, um bom ambiente de negócios. Isso se deve a diversos fatores, como uma carga tributária excessiva e um Estado com dificuldades para alocar recursos, explica Schüler. Tudo isso faz com que a nossa produtividade fique estagnada.
- Saídas para a crise. O cientista político acredita que, além de criar incentivos de mercado para alavancar a produtividade, o País deve mudar as regras do jogo. “Precisamos rediscutir a carga tributária. Fico chocado quando vejo gente dizendo que é preciso aumentar a carga tributária aqui e ali. O Brasil já tem a maior carga tributária da América Latina. Temos de reduzi-la”, defende.
- Estado perdulário. Schüler argumenta que se uma pequena parte dessa carga fosse reduzida, seria possível devolver esse montante ao mercado e permitir que os agentes econômicos fizessem a alocação mais eficiente dos recursos. “O Estado brasileiro é perdulário, e precisamos encarar isso”, conclui.
O futuro das reformas
- Empecilho. Se a produtividade custa a avançar, as reformas estatais se encontram em situação similar. O cientista político ressalta que, com a intensificação da polarização, surgem empecilhos na hora de pôr em prática as reformas necessárias para o País.
- Polarização. “Como temos um debate público, hoje, totalmente digitalizado, com milhões de pessoas participando o tempo inteiro, houve uma grande intensificação da discussão política”, explica. “Isso faz com que a polarização se acentue, levando a impasses e à dificuldade de produzirmos consensos e de encararmos temas difíceis”, completa.
- Reformas estacionadas. Para o cientista político, a chamada microeconomia da democracia é um obstáculo às grandes discussões, como a Reforma Tributária. “Foi a única grande reforma que fizemos nos últimos dois anos. Só que esta entra no Congresso de um jeito e sai toda fatiada, por uma sucessão de lobbies”, explica. Isso se deve ao alto “custo” da negociação legislativa em um Parlamento polarizado, o que é preocupante diante de temas urgentes para o País. “O Brasil está adiando a Reforma Administrativa há quanto tempo?”, questiona.
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