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“Arquitetura era feita priorizando prédios, não as pessoas”, diz Jan Gehl

DEBATEDORES | Jan Gehl

O modelo arquitetônico que dominou a construção das grandes cidades do mundo no século passado não levou em conta a vida social e a saúde das pessoas, privilegiando apenas as formas dos prédios. É o que diz o arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl, autor de diversos livros e crítico do modernismo.

Em entrevista ao UM BRASIL, Gehl cita Brasília como um modelo ruim de planejamento urbano, dizendo que a cidade foi construída sem pensar nas pessoas que viveriam lá, além de beneficiar a cultura do automóvel, uma vez que os edifícios foram erguidos a longas distâncias uns dos outros.

“Brasília é interessante, porque é incrível vista do avião. E, lá embaixo, onde as pessoas estão, ao nível do olho, ela não é nada bonita. E os construtores não pensaram nas pessoas nas ruas, nas pessoas entre os prédios. Apenas fizeram os prédios, então sobrou um espaço entre os prédios, daí chamaram alguns paisagistas para fazer uma jardinagem. Olharam para a janela para ver se as pessoas estavam felizes, mas não estavam”, diz o autor do livro “Cidades para Pessoas”.

Segundo Gehl, a prioridade do modelo modernista são as formas e, em seguida, o paisagismo. Por isso, a vida em cidades como Brasília tende a ser desconfortante. “Demoramos 50 anos para provar realmente que esse tipo de planejamento urbano não é humanístico. Não é para as pessoas e podemos fazer algo muito melhor. Podemos reparar as cidades existentes e podemos fazer novas cidades muitos melhores do que Brasília ou do que se vê em São Paulo”, afirma o arquiteto.

De acordo com ele, a longevidade do modernismo urbano se deve às forças de mercado, principalmente à indústria automobilística e à construção civil, em detrimento da saúde dos cidadãos e do cuidado com o meio ambiente. “Essa ideia velha de planejamento urbano também foi apoiada pelo automobilismo, pelos carros que devem levar as pessoas de um lugar a outro. Isso significa que, durante 50 anos, fizemos um planejamento urbano que convida as pessoas a sentarem o dia todo. E agora sabemos que isso é um grande problema para a saúde”, diz Gehl.

Crítico contumaz do modernismo, Gehl afirma que, se tratada apenas pelo impacto visual, a arquitetura se resume a uma prática similar à escultura. “Eu penso que boa arquitetura não é apenas forma, porque isso é escultura. Boa arquitetura é interação entre forma e vida. E somente se a interação funciona bem, e essa forma suporta a vida, seja numa área ou num prédio, trata-se de boa arquitetura.”

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