A insatisfação com a política brasileira e o medo de uma ruptura democrática impulsionaram o surgimento de manifestos e grupos organizados por representantes da direita e da esquerda. Eles são formados por artistas, advogados, juristas, integrantes de torcidas organizadas, políticos, intelectuais, cientistas, empresários e pessoas de outros segmentos da sociedade civil que, de forma geral, sejam contra atos antidemocráticos e a favor da liberdade e do respeito à Constituição Federal.
O número de movimentos – que cresceu substancialmente nos últimos anos – faz um contraponto interessante com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se mais da metade dos brasileiros (54,2% da população) nasceu após 1985, ano em que o regime militar terminou, pode-se afirmar que poucas pessoas viveram, de fato, a experiência da ditadura, já que o porcentual desconsidera as pessoas que ainda eram crianças na época.
O receio de retornar a um regime ditatorial por causa dos ataques às instituições, das agressões à imprensa e de outros retrocessos deixa clara a polarização política no Brasil, situação que ocorre também em outros países. Para o professor de Harvard, Michael Sandel, que também é filósofo,, essa tensão se deve ao problema da falta de participação dos cidadãos nas democracias mundo afora.
“Em muitas democracias, o que vemos é uma revolta contra as elites e os partidos políticos estabelecidos com base no sentido de que eles falharam em oferecer alternativas significativas na política. É importante olhar o mundo para observar os erros de algumas sociedades na direção de soluções extremistas, nascidas da raiva e do ressentimento, e tentar criar um debate forte o suficiente entre os cidadãos para que o Brasil não seja vítima de soluções extremistas que vemos surgir em algumas outras sociedades democráticas”, afirma o filósofo.
A professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e cientista política Nara Pavão, faz uma ressalva e diz que as pessoas costumam pensar na democracia como o fator que vai resolver todos os problemas e entregar todos os resultados por si só. No entanto, isso é uma visão romantizada. “A democracia existe para que se coloquem conflitos na mesa e que se apontem caminhos para a solução, e não necessariamente para trazer resultados prontos”, diz.
O sociólogo político e professor da Universidade de Stanford, Larry Diamond, acredita que a queda na valorização da cultura democrática se deve ao fato de que as pessoas estarem descontentes com o sistema em que vivem, em função de políticas que não atendem às suas reais necessidades. “Reflete algum aumento de disposição em considerar alternativas autoritárias, o que é maior em algumas sociedades que em outras. É um alerta de que não podemos contar para sempre com o comprometimento das pessoas com a democracia apenas pelo desejo de não viver sob um regime autoritário”, diz o docente.